O Mogwai, que há dois posts encabeçou o top 10 de capas de discos ilustradas por aves com o álbum "The Hawk is Hawlling", é uma das bandas de que mais gosto, pelo menos entre as surgidas nas últimas duas décadas. Principalmente por suas performances ao vivo. Assisti a quatro shows do quinteto escocês, um em São Paulo em 2002 e três em Barcelona (2006, 2007 e 2008), e apenas o último foi OK. Os outros foram inesquecíveis, demolidores, transcendentais.
Para quem não conhece, o Mogwai é uma quadrilha de hooligans que faz um som emotivo e muito intenso. Eles mesmo não escondem que originalmente tentavam tocar metal, mas com a pouca técnica e velocidade que deus lhes deu, acabaram por canalizar suas ganas sônicas de outra maneira. Inauguraram, em 1997 com o álbum "Young Team", uma fórmula que seguramente já havia sido imaginada por outros músicos antes, mas que ninguém tivera a manha de por em prática: concentrar em peças instrumentais a melancolia do Cure + a explosão do Sonic Youth + o volume absurdo e as texturas sobrenaturais do My Bloody Valentine, obtendo assim a estética indie "sensível" em estado puro.
O que justifica plenamente, aliás, o nome da banda. Mogwais, vocês vão lembrar, eram os bichinhos fofo do filme "Gremlins" (1984). Lindos e meigos, mas que se transformam e se multiplicam em monstros grotescos, maldosos e ruidosos ao acréscimo de água. No filme, a o uso da palavra mogwai logo descobria-se fatal, já que em cantonês significa "espírito maligno". No caso do Mogwai banda, o H2O, ou este tal elemento diabólico da mística chinesa, seria o álcool. Uma combinação cujo efeito resultante é um monstro com corpo de ruído e cabeça de melodia, que destrói o que encontra pela frente com seus obscenos crescendos de distorções e ecos de guitarra.
Imaginem o mais gigantesco carro abre-alas do mundo pedindo passagem em uma avenida infinita. Em seguida substituam o impacto de surdos e tamborins pelas guitarras de afinação alternativa do infernal gordinho Stuart Braithwaite (sempre há um pedal mais poderoso para ele pisar nos compassos que estão por vir) e pelas melodias de teclado tristes, mas esperançosas, de Barry Burns. A cada dinâmica de barulhos, uma lufada de vento sonoro na cara, como as do menino Calvin quando desce tobogãs com Haroldo. É mais ou menos esta a experiência Mogwai ao vivo.
Os cinco rapazes de Glasgow são ainda mais especiais por sua personalidade. Como ia dizendo, não fazem o gênero típico de indies indefesos de cabelinho sobre o olho, mas sim o de hooligans beberrões com as manhas de subirem no palco todos trajando agasalhos do Celtic F.C.. O baterista Martin Bulloch, por exemplo, não abre mão do cachecol verde e branco do time sobre seu instrumento em nenhuma hipótese.
E, no que é a cereja do bolo da banda, eles mantêm um senso de humor corrosivo e nonsense ao escolher nomes para suas músicas, aproveitando que quase nenhuma possui letra. Quanto mais bonita e melancólica é a canção, mais escrachado e pitoresco seu título. Eu já falei sobre isso nesta resenha de 2005 para a revista Trip, mas agora resolvi ir além e homenagear o grupo com uma lista de músicas qualificadas pela graça de seus nomes. Todas são de alto nível, mas outras preciosas, como "Tracy", ficam de fora por seus títulos convencionais. As menções honrosas repousam sobre "Hunted By a Freak" ("Caçado por um Freak") e "I Chose Horses" ("Eu Optei por Cavalos"), batizadas genialmente, mas que se excluem por não serem instrumentais. Enfim, em outras palavras, uma bela desculpa para que vocês passem alguns doces e duros momentos na companhia desta Senhora Besta que é o Mogwai.
E, no que é a cereja do bolo da banda, eles mantêm um senso de humor corrosivo e nonsense ao escolher nomes para suas músicas, aproveitando que quase nenhuma possui letra. Quanto mais bonita e melancólica é a canção, mais escrachado e pitoresco seu título. Eu já falei sobre isso nesta resenha de 2005 para a revista Trip, mas agora resolvi ir além e homenagear o grupo com uma lista de músicas qualificadas pela graça de seus nomes. Todas são de alto nível, mas outras preciosas, como "Tracy", ficam de fora por seus títulos convencionais. As menções honrosas repousam sobre "Hunted By a Freak" ("Caçado por um Freak") e "I Chose Horses" ("Eu Optei por Cavalos"), batizadas genialmente, mas que se excluem por não serem instrumentais. Enfim, em outras palavras, uma bela desculpa para que vocês passem alguns doces e duros momentos na companhia desta Senhora Besta que é o Mogwai.
10-"Mogwai Fear Satan"
Para esquentar e espantar o demônio do título, música do trailer de filme sobre a banda, a ser lançado em breve. Do álbum "Young Team" (1997).
9-"Friend of the Night"
Uma das minhas favoritas, se não a favorita. O "amigo da noite" como pano de fundo para um clipe esquisitão e inventivo, com coisas se transformando em outras inesperadamente. Está no disco "Mr. Beast" (2006).
8-"2 Rights Make 1 Wrong"
Da fase de arranjos mais complexos, com (ainda) mais camadas de cordas e efeitos. O violoncelo cai como uma luva. Presente em "Rock Action" (2001).
7-"Kids Will Be Skeletons"
Se o nome ("Crianças Virarão Esqueletos") nos relembra de forma ácida sobre a efemeridade desta vida, os choros melódicos das guitarras são o consolo de que a eternidade também pode bater à porta. Integra "Happy Songs for Happy People" (2003).
6-"Terrific Speech"
A mais vanguardista colaboração entre futebol e música é a trilha do Mogwai para "Zidane, A 21st Century Portrait", documentário de 2006 com imagens do craque francês durante uma partida do Real Madrid. O "Discurso Estupendo", imagino, são as conversas de Zizu com Roberto Carlos.
5-"Scotland's Shame"
Para os leigos em futebol, é bom saber que Celtic x Glasgow Rangers é uma das mais ferrenhas rivalidades do mundo, por ser religiosa. O time do Mogwai é de católicos, o rival é de protestantes. Em entrevista do ano passado, o Mogwai revelou o que para eles seria a vergonha da Escócia mencionada no título. O Glasgow Rangers, é claro. Música do álbum "The Hawk is Hawlling" (2008).
4-"Ratts of the Capital"
Vejam bem. Não são ratos de qualquer lugar. São ratos da capital. Uma das melhores faixas ao vivo, tem uma dinâmica avassaladora que chega a um nível inimaginável quando Burns assume a terceira guitarra. De "Happy Songs...".
3-"I'm Jim Morrison, I'm Dead"
É capaz que o próprio líder do Doors saia da tumba quando acordes como estes sejam repetidos com tal intensidade. Outra de "The Hawk...".
2-"Stop Coming to My House"
Seria timidez o que levou o autor deste título a preferir estas paredes de som a um simples telefonema para pedir que fulana(o) não vá mais a sua casa? De "Happy Songs...".
1-"I Love You, I'm Going to Blow Up Your School"
A declaração de amor pós-Columbine perfeita. Ainda vão processar o Mogwai quando algum adolescente americano maluco que tenha esta música no iPod cometer mais um massacre escolar.
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