segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Luz, câmera e inspiração



Imagem: Sardonika.com

Que Meryl Streep é tricampeã e o cinema mudo voltou a ser bacana vocês já sabem. Mas talvez não tenham parado para pensar a respeito da quantidade de boas canções que existem por aí sobre atrizes e atores.

Para o quarto post do Mala da Lista inspirado em cinema (os outros são: Top 10 Cenas de filmes com Atores Cantando, Top 10 Músicas aplicadas em Cenas de Filmes e Top 10 Separados no nascimento Cinema x Música), separei as que mencionam os astros para valer, dando nome aos bois.

Ficam de fora, portanto, as que supostamente se referem a eles (“Tigresa”, de Caetano, que seria sobre Sônia Braga, ou “She Said She Said”, dos Beatles, um recado lisérgico sobre a morte possivelmente dado por Peter Fonda a John Lennon). Algumas musas ganharão especial algum dia, de tantas vezes que já foram citadas em músicas (Brigite Bardott, por exemplo).

10-Madonna x vários – “Vogue” (1990)
Um pouco antes de virar a monotemática da safadeza – a fase “Erotica” – Madonna se interessou pelo glamour dos anos dourados de Hollywood. Sobre base house, ela presta seus respeitos aos seguintes galãs e musas (“eles tinham estrela, tinham graça”, diz): Greta Garbo, Marylin Monroe, Marlene Dietrich, Marlon Brando, James Dean, Grace Kelly, Jean Harlow, Gene Kelly, Fred Astaire, Ginger Rodgers, Rita Hayworth, Lauren Bacall, Katherine Hepburn, Lana Turner, Bette Davis.



9- Fountains of Wayne x Christopher Walken – “Hackensack” (2003)
Em uma tipicamente bem sacada letra destes americanos, o sujeito sofre de saudades de uma garota que conhece desde sempre da pequena cidade de Hackensack. Agora, porém, se sente tímido para abordá-la, já que a moça se deu bem em Hollywood e a última vez que ele a viu foi “conversando com Christopher Walken” na cena de um filme.

8-Zeca Baleiro x Stephen Fry – “Stephen Fry” (1997)
Eu sei, o arranjo é brega, exemplar da mais acomodada das MPBs. Sei também, Baleiro “canta como o Pelé”, tal qual resenhou certa vez o jornalista Fabio Bianchini. Mas a ideia de buscar no aparente sumiço do desajeitado humorista britânico o argumento de uma canção – e de um disco – é sensacional.

7-Bauhaus x Bela Lugosi – “Bela Lugosi is Dead” (1979)
Foi o alemão Max Schreck o ator quem, segundo a lenda, nunca mais desencarnou do papel de Drácula. Mas a possivelmente mais clássica interpretação do vampirão, a cargo do húngaro Bela Lugosi(1882-1956) em “Nosferatu” (1922) também foi, de certa forma, eterna. O cara pediu para ser enterrado com a capa, só isso. Não à toa virou assunto para o primeiro hit do rock gótico.

6-The Thrills x Corey Haim – “Whatever Happened to Corey Haim” (2004)
Aborda os anos desencontrados de Corey Haim, ator infantil de grande sucesso nos anos 80 – era um dos “Garotos Perdidos”, lembram? – que, uma vez adulto, desandou como tantos outros de sua espécie. A ótima canção, que soa mais alegre do que o tema sugere, foi profética: Haim morreu em 2010, com apenas 38 anos, após overdose de remédios.

5-Bob Dylan x vários - “I Shall Be Free” (1963)
Para Dylan, os Estados Unidos só seriam grandes mesmo se certas beldades cinematográficas fossem “importadas” em caráter definitivo: Sophia Loren (Itália) Brigitte Bardot (França), Anita Eckberg (Suécia). Para dizê-lo, Bob se imagina recebendo uma hipotética ligação telefônica de John F. Kennedy, que lhe pergunta sobre a questão. Dois outros “gringos”, o galês Richard Burton e a inglesa Elizabeth Taylor, também são mencionados. A última, como parceira sexual fantasiosa do autor.

4-Antònia Font x Clint Eastwood– “Clint Eastwood” (2011)
Da rara estirpe dos que conseguem encaixar o catalão em músicas bonitas e com letras inteligentes – ainda por cima o fazendo em dialeto maiorquino -, a banda Antònia Font celebra aqui a rudeza afável de Clint Eastwood em sua faceta ator (“faz anos que você não toma banho”). Uma menção honrosa a Morgan Freeman (“o negro de ‘Million Dolar Baby’”) se posiciona entre os refrões, que decretam (“I un home tot sol no sempre se basta” – “um homem só nem sempre se garante”) e depois perguntam (“qui dubta avui en dia d'en Clint Eastwood?” – “quem duvida hoje em dia do Clint Eastwood?”).

3-The Clash x Montgomery Clift – “The Right Profile” (1979)
“Em meio a bandidos e cafetões/ Monty Cliff é reconhecido na madrugada/ Sem os sapatos e com as roupas rasgadas”. Assim o Clash tratou a decadência do ídolo que sempre viveu outsiders no cinema. Dizem que, depois de um acidente de carro terrível em 1956, Montgomery Clift foi ladeira abaixo, se entupindo de drogas e se metendo em encrencas. Morreu dez anos depois.

2-Kim Carnes x Bette Davis e Greta Garbo - “Bette Davis Eyes” (1981)
A letra do grudento hit oitentista – cujo clipe é espetacularmente cafona – usava os “suspiros de repulsa de Greta Garbo, e os olhos de Bette Davis” para descrever uma certa killer lady e eternizar-se nas pistas. Lado a lado, naturalmente, com o verso “She’ll unease you”, que em bom virundum português soa perfeitamente como “Chico Anísio”.

1-R.E.M. x Martin Sheen, Steve MacQueen e James Dean – “Electrolite” (1996)
Hollywood is under me /I'm Martin Sheen / I'm Steve McQueen /I'm Jimmy Dean”. Quando o R.E.M. se inspirava, era difícil de segurar. Ainda mais sobre uma “daquelas” melodias.  Michael Stipe conta que, pouco antes do lançamento do disco que contém a faixa, “New Adventures in Hi-Fi”, encontrou Martin Sheen no dentista. Contou ao protagonista de “Apocalypse Now!” que o citaria em uma canção-tributo e recebeu o aval ali mesmo. Não sem antes Martin encher a boca de água, embochechar e cuspir na minipia ao lado da cadeira.

*Siga este blog também pelo twitter: @maladalista


sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Baile dos mascarados



Virou tradição. O post de Carnaval do Mala da Lista já está para este blog como a Neosaldina para os foliões (dá vontade de colocar um link sobre a palavra “Neosaldina”, de tão fã que sou deste analgésico milagroso).
Em 2010 escancarou-se toda a nudez, castigada ou não, de algumas das capas de disco mais desinibidas da avenida; “Fechando na Prochaska” foi o samba-enredo do ano seguinte, homenageando o esplendor e a glória das melhores virilhas que, como luxuriantes carros abre-alas, estampam em encartes.
Para a terceira edição do baile carnavalesco, resolvi pegar leve, voltando às origens da ancestral festa pagã: as máscaras. De artigo de fetiche nos (ba)canais de Veneza a indumentária pornô em salões do litoral brasileiro, elas de certa forma ainda simbolizam o Carnaval, como a bunda de fora ou o Pedro Bial narrando breaco o desfile da “Caprichares de Pilosos” em 2000.
E claro que, por serem algo tão clássico, as máscaras foram parar também na cara de artistas dos mais extravagantes na hora de posarem para capas de discos. Algumas são históricas. Apreciem e não se esqueçam: ziriguidum, telecoteco.
*Não valem álbuns da banda Slipknot, mascarada supostamente 24 horas por dia, 365 dias ao ano.



10-The "You Know Who" Group – “The ‘You Know Who’ Group” (1965)

Grupo efêmero montado nos EUA para tentar imitar as bandas inglesas até no sotaque, chega a soar bem, mas com tão pouca autenticidade que os músicos tiveram que se disfarçar de Zorro.



9-Tricky – “Knowle West Boy” (2008)

Na alfândega entre o clima “Eyes Wide Shut” da foto lá de cima e a luta livre mexicana.



8-Eurythmics – “Touch” (1983)

O esgrima imaginário de Annie Lennox pedia adereços. E muita tinta no cabelo.



7-Björk – “Medúlla” (2004)

Não fica claro, mas me parece uma máscara feita com cabelo. O que seria bem bjorkiano.



6-Steve Miller Band – “The Joker” (1973)

Legal, mas não a ponto de figurar como a 83ª capa mais legal da história, como já disse a Rolling Stone.



5-Soft Cell – “The Art of Falling Apart” (1983)

O dramatismo da geração synthpop rendia muito exagero estético, mas também alguns belos momentos.



4-Joan Baez - Blowin’ Away (1977)


Se eu disser que não é a única capa com um artista usando máscara de aviador, periga que vocês não acreditem. Mas tanto é verdade que até renderia um top 5, cavocando bem. Com esta em primeiro lugar, claro.



3-John Cale – “Guts” – (1977)


“Oh, he’s a grumpy old man”, me disse minha amiga Sinéad sobre o ex-Velvet Underground, após emprestar-lhe backing vocals em show. Por “grumpy” entenda-se “ranzinza”, “rabugento”. O que não condiz muito com o senso de humor de Cale na década de 1970, quando combinar macacão Jedi com máscara do Jason, empunhando uma guitarra em Flying V, era apenas um detalhe. Só para quem tinha, é verdade, “guts”.



2-Ney Matogrosso – “Ney Matogrosso” (1975)


-Dêem-me um disco solo e eu serei capaz de tudo.
-Isso inclui se fantasiar de ave de rapina, com cobras e penachos saindo do sovaco?
-Claro.
-Contratado, Ney.



1-Captain Beefheart & The Magic Band – “Trout Mask Replica” (1969)


Para superar uma máscara cujo objetivo é emular um ou mais animais, só mesmo “vestindo” o próprio bicho. Caneco indiscutível para o truta Beefheart.

*Siga este blog também pelo twitter @maladalista