quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Eat it!



Sempre achei especialmente curiosos os argumentos de clipes musicais baseados em artistas comendo. Em geral, estas produções vão além do arroz com feijão, gerando momentos de alta gastronomia visual.

Na semana entre o Natal e Réveillon – esta mesmo,  a que corresponde ao apogeu de nossos excessos culinários durante o ano - o Mala da Lista preparou um cardápio especial para a Virada: um menu degustação com cinco vídeos estrelados por músicos glutões. Se não servirem para abrir o apetite, no mínimo emocionam ou arrancam gargalhadas.

Bom apetite.


5-Bjork – “Venus as a Boy” (1993)

Coube a Sophie Muller, diretora com mais de uma centena de videoclipes no currículo, transformar em fetiche não apenas a barriguinha de fora da gnoma do gelo, mas também o simples fritar um ovo. Frigideira em punho, a gnoma do gelo faz dengo, acaricia um lagarto e canta toda sonhadora sobre a fantástico arranjo “Bollywood” de Talvin Singh.



4-Blur – “There’s no Other Way” (1991)

Engana-se quem pensa que os almoços dominicais ingleses se resumem a fish and chips. No banquete da Família Blur há espaço para uma apetitosa torta com molho e almôndegas, otimistas prenúncios para a apoteose final: o tremelicante bolo de vários andares que, iluminado entrecortadamente no melhor estilo David Lynch, tem pinta de nave espacial.



3-Ramones – “I Wanna Be Sedated” (1979 – clipe de 1988)

Para promover a coletânea “Ramonesmania”, Bill Fishman, diretor de comédias televisivas de pouca repercussão, pediu aos Ramones que ficassem por algumas horas sentados, imóveis, em uma mesa de café da manhã. Dee Dee, sempre o mais cool, até lê um comic, enquanto vários enfermeiros, uma freira, um super-homem inflável e até mesmo um tocador de gaita de fole circulam com histeria ao redor dos quatro.



2-Asian Dub Foundation e Sinéad O’Connor – “1000 Mirrors” (2003)

O vídeo dirigido pelo francês Henri-Jean Debon é impactante. Convidada estrangeira a um jantar de uma família indiana, a norte-irlandesa Sinéad pede a palavra. E canta a terrível história da paquistanesa Tsoora Shah, condenada a vinte anos de prisão por envenenar e matar o segundo marido que, como o primeiro, a espancava e violentava, além de obrigá-la a se prostituir. No começo, os anfitriões – aos quais se incluem integrantes do ADF - não dão bola à carequinha, fingem não ouvi-la e até fazem boba coreografia. Após o primeiro refrão, porém, o clima “baixastraliza” e a mesa silencia, enquanto O’Connor questiona o calvário de Tsoora.



1-Weird Al Yancovic – “Eat It” (1984)

Não é à toa que quase todos os astros parodiados por Weird Al se dizem seus fãs (são raros os casos de gente que não autorizou suas sátiras). Michael Jackson, um dos principais alvos do humorista, até indicava os sets originais de seus clipes para que o célebre nerd de bigode e óculos pudesse utilizar. Foi o caso de “Eat It”, paródia do clássico “Beat It” que, além de contar com letra hilária (“You won't get no dessert 'till you clean off your plate/ So eat it” é apenas um aperitivo) e reproduzir quadro a quadro o vídeo de Michael, também foi fidelíssimo quanto a figurino, fotografia e o aspecto dos atores (não sei, mas creio que os principais foram os mesmos). Uma superprodução galhofeira que atinge seu clímax na famosa cena de luta entre gangues: os chefes dos bandos duelam “atados” por um frango de borracha.

 
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quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Japan Fever



Se no Japão o próximo domingo é dia de celebrar o futebol-arte, com Messi e Neymar prometendo o embate mais ofensivo da história, aqui no Mala da Lista, direto da terra do Barça, é tempo de inverter os papéis, homenageando as “capas-arte” de discos com inspiração nipônica.

Lindas, elas atestam o fascínio do mundo pop pelo país do sol nascente.

*Não valem, claro, artistas japoneses; nem as dezenas de álbuns “Live in Japan”, “Live in Tokyo” ou os clássicos “Live at Budokan”; tampouco as infinitas edições especiais japonesas de qualquer disco.


10-Alphaville – “Big in Japan 1992 AD” (single – 1992)

Começamos pelo básico. De quando a banda alemã, não vendo mais alternativas de volta ao topo das paradas, remixou um de seus dois únicos hits.


9-Beat Culture – “Tokyo Dreamer” (2011)

Espécie de pós-trip-hop, pós-Lost in Translation. É mais ou menos assim o som deste grupo americano. E mais ou menos assim a capa.


8-Mogwai – “Young Team” (1997)

Dada a melancólica abstração instrumental do quinteto escocês, não faltariam suposições sobre a profundidade do que está escrito neste painel. Mas, em típica pegadinha do Mogwai, quer apenas dizer “Banco Fuji”.


7-Japan – “Adolescent Sex” (1978)

Entre o glam ao new romantic, tudo indica que a escala era no Japão.


6-Wayne Shorter – “Speak no Evil” (1965)

Perrrdeu, Yoko Ono. Você não foi a primeira esposa japonesa a se intrometer em capas de disco de músicos internacionalmente consagrados. Teruka Nakagami, primeira mulher de Wayne Shorter, é a verdadeira pioneira.


5-Antony & the Johnsons – “The Crying Light” (2009)

E por falar em pioneirismo, este cidadão aí na foto é Kazuo Ohno, falecido em 2010 aos 103 anos. A ele se atribui o desenvolvimento da hermética, cerebral e pitoresca dança performática japonesa conhecida como Butoh (ou Butô). O belo retrato é de 1977.


4-Steely Dan – “Aja” (1977)

Minimalismo e delicadeza são clichês usados para definir a “estética japonesa”. Pois aqui se aplicam, não?


3-Bjork – “Homogenic” (1997)

Alexander McQueen, estilista britânico que se suicidou no ano passado, foi o responsável por transformar Björk numa espécie de gueixa-fada, uma “guerreira do amor”, conforme lhe brifou a islandesa à época. O resultado ajudou a dar a cara lírica e emotiva que o conteúdo do álbum pedia.


2-Sparks – “Kimono My House” (1974)

Como disse o finado crítico musical Ian MacDonald, “a moça da esquerda está escutando ‘Kimono My House’ pela primeira vez”. Devia estar mesmo. Ô, disco estranho (e interessante).


1-Sigue Sigue Sputnik – “Flaunt It” (1986)

Pois já que tocamos no assunto, a minha cara foi uma mistura das expressões das duas gueixas do Sparks acima quando ouvi Sigue Sigue Sputnik em uma festinha de meu prédio nos anos 80. Quando me mostraram a capa, então... o que poderia ser mais legal do que uma banda que homenageia os heróis trash da TV japonesa, aqueles mesmos que assistíamos na Record (SBT?) em seus discos?

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segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

5 não. 10 vezes Corinthians



Tremula sobre a Calle Blai, artéria do bairro barcelonês do Poble Sec, a bandeira alvinegra do Corinthians.

Eu poderia teorizar sobre os mistérios que levam as conquistas do pentacampeão brasileiro a serem sempre tão sofridas, emotivas e neurotizadas pela superstição (jamais me aventuraria a deixar um post como este pronto antes do resultado, por exemplo). Algo que em 2011elevou-se à quinta potência com a morte de Sócrates no preciso dia da rodada final, e seu enterro simultâneo ao embate contra o Palmeiras.

Poderia chorar as pitangas de maloqueiro sofredor expatriado, condenado a atravessar madrugadas trocando erráticos SMSs com filiais da Fiel que vão de Valência a Dubai, à procura do link imperfeito. Que quase sempre resulta em imagens cruelmente pixeladas e lances visualizados em arrancos de cachorro atropelado. Na melhor das hipóteses, nos permitem assistir às partidas achando normal confundir Liedson com Willian.

Ou poderia, então, contar sobre quando todo este espírito de dramalhão mexicano entrou de forma irreversível em minha vida, no dia seguinte a uma reunião de pais na Pré-Escola, em 1985. Atropelando o protocolo, meu pai preferira deixar um bilhete - lido à classe pela professora diante de uivos generalizados e um pequeno mosqueteiro ruborizado - com os dizeres “VIVA O CORINTHIANS!!!”, a elogiar os meu desenhinhos, como fizeram todos os demais responsáveis.

Mas não. É dia de festejar sem muito blablablá, ao som de dez canções sobre o Coringão – duas para cada Brasileirão abocanhado -, ou com referências apaixonadas ao clube banhado pela Marginal Tietê (há algo mais corintiano do que isso?). Os melhores trechos das letras vêm em destaque. Só valem compositores “civis”, portanto excluem-se centenas de gritos de torcida – tipo “quem não for corintianuuuuuu, vá pra puuuuuta, que o pariu” -, nem os enredos da escola de samba Gaviões da Fiel. Também fica de fora o maravilhoso hino, sobre o qual ainda falaremos aqui.

Vai, Corinthians.


10-Jackson do Pandeiro – “Bola de Pé em Pé” (1981)

A música em princípio era sobre o Flamengo, mas o Rei do Ritmo não resistiu:

Em São Paulo eu sou Corinthians /Eu adoro o Timão



9-Negra Li e Rappin’ Hood – “Sou Corinthians” (2010)

No centenário, um verdadeiro beabá de guerreiros e suas proezas:

O gol de Viola/O chute de Basílio/ A classe do Doutor e a fé de Marcelinho



8-Xis – “Chapa o Côco” (2001)

Clássico, Timão contra us porco/ Eu vou pru estádio/ Na vitória na derrota eu to do mesmo lado



7- Demônios da Garoa – “Coríntia (Meu Amor é o Timão)” (???)

Adoniran Barbosa, o autor da canção, prestava também sensacional tributo à Zona Leste de São Paulo:

Como é bom ser alvinegro/ ontem, hoje e amanhã /Respirar o ar mistura /Do Tietê a Tatuapé

 

6-Branca de Neve – “Garra Corintiana” (1989)

Composta com um cidadão chamado Luiz Carlos Xuxu:

Vai, vai, vai/ São Jorge vai nos ajudar /Vai, vai, vai/ São Jorge também vai jogar



5-Rita Lee – “Amor em Preto e Branco” (1972)

Com Arnaldo Baptista, Rita desabafou sobre a tortura do jejum sem títulos:

Por que será que eu gosto de sofrer?/ Vai ver que agora eu dei pra masoquista /Meu amor branco e preto/ Às vezes me deixou na mão.



4-Paulinho Nogueira e Toquinho – “20 Anos de Espera” (1974)

Antes do “Vai Corinthians” houve o “Ai Corinthians” de quem espero 23 anos por um caneco:

Quantos domingos sombrios / Eu, eterno sonhador /Chegava em casa arrasado / Maltratava o meu grande amor



3-Gilberto Gil – “Corintiá” (1984)

Gil sabe o suficiente de futebol:

Ser corintiano é decidir/ Que todo ano a gente vai sofrer /Se enrolar no pano da bandeira/ E reclamar se o time não vencer



2-Sílvio Santos – “Transplante Corintiano” (1968)

É, tem sim algo mais corintiano do que a sede ser na Marginal Tietê: o Sílvio Santos cantando uma marchinha de carnaval sobre o time (composta por Ruth Amaral, Manoel Ferreira e Gentil Junior)

Doutor, eu não me engano / Meu coração corintiano



1-Toquinho – “Corinthians do Meu Coração” (1983)

Diretamente do navio do centenário. E salve-se quem puder:

Corinthians do meu coração / Tu és religião de janeiro a janeiro / Ser corintiano é ser além/ De ser ou não ser o primeiro


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quarta-feira, 16 de novembro de 2011

El divorcio


Os ex-indie sweethearts Kim Gordon e Thurston Moore (Foto: Life)
Não fui ao show do Sonic Youth no festival paulista SWU na última segunda-feira.

Mas pelos relatos de quem viu, a banda subiu ao palco em Paulínia com a mesma sensação dos jogadores que disputaram a Copa de 2006 pela seleção de Sérvia e Montenegro, um país que então já não existia (Montenegro se independentizara uma semana antes do torneio). Enfim, cumprindo tabela diante de um fim inevitável que se aproxima.

A razão para a “incerteza” sobre o seu futuro, como o próprio grupo novaiorquino define a atual situação, é a separação de Thurston Moore e Kim Gordon (o segundo melhor casal pop nesta lista aqui).

E dá para imaginar o quão awkward deve ter sido para a dupla, após 27 anos dividindo a cama e o palco, viajar e tocar juntos sem estarem realmente juntos (o show brasileiro já estava marcado quando divulgou-se o anúncio).

Fã não só da banda, mas também do casal, sei bem o que haveria feito se pudesse ter comparecido no SWU. Naquele momento entre as músicas, em que em geral os fãs berram os nomes das canções que desejariam escutar, eu gritaria: “get married again! Immediately!”.

Fosse uma comédia romântica, soaria ao fundo então a maravilhosa “I Love You Golden Blue”, em que Kim sussurra como se fosse ao ouvido do garoto dourado de olhos azuis Thurston, e pouco antes dos créditos do fim do filme eles cairiam em conta de que a reconciliação era o único caminho. E, no container improvisado de camarim atrás do palco, brindando com uísque importado da Escócia e pamonhas encomendadas em Piracicaba, selariam o amor eterno. Ou por pelo menos 27 anos mais.

Em solidariedade ao momento de Kim, Thurston e Coco Haley Gordon Moore, a filha de 17 anos de ambos, preparei um playlist com as top 5 melhores músicas sobre a separação. Boa sorte para eles.

5-Martinho da Vila – “Menina-Moça” (1967)

Genial pensata do craque de Vila Isabel sobre nossa insatisfação eterna e como funcionamos de forma cíclica: de passear a acompanhar, de acompanhar a flertar, de flertar a namorar, de namorar a noivar, de noivar a casar, de casar a brigar, de brigar a desquitar, de desquitar a amigar, de amigar a separar, de separar a não querer amar, e por não querer amar, chorar. Foi o samba que lançou Martinho, inscrito no festival da Record de 1967, mas só apareceu gravado no bom terceiro disco, “Memória de um Sargento de Milícias”, de 1971.




4-Arsenio Rodríguez – “El Divorcio” (1956)

Na tradição das grandes canções populares cubanas de transformar em versos irresistíveis os provérbios mais sacanas, o cego Arsenio (1911-1970) ensina aqui que “certos cães não perdem seu vício, ainda que queimem o seu focinho”. E a estes vacilões reincidentes, o refrão dá o exemplo fatal: “ahí la negra te lo dio el divorcio”.




3-Chico Buarque – “Trocando em Miúdos” (1978)

Na amargura, Chico fica ainda mais Chico. E nem a melodia ponderada de Francis Hime alivia a dor da ruptura expressa neste clássico. É escolher o melhor-pior verso e correr para soluçar debaixo do edredom. Alguns candidatos:

Aquela aliança, você pode empenhar, ou derreter”

“Mas devo dizer que não vou lhe dar/O enorme prazer de me ver chorar”

“Eu bato o portão sem fazer alarde/Eu levo a carteira de identidade/Uma saideira, muita saudade/E a leve impressão de que já vou tarde”.




2-Bidê ou Balde – “Mesmo que Mude” (2004)

Implicância generalizada com o Bidê ou Balde é o que não falta por aí: são gaúchos demais, engraçadinhos demais, o vocalista Carlinhos é gordo demais, a backing vocal Vivi gata demais. Mas detratores e fãs – e eu não sou nenhum deles - hão de concordar: pouca gente acertou tão na veia em uma canção a respeito da relação entre duas pessoas recentemente apartadas quanto os autores desta, Carlinhos e o guitarrista Rodrigo Pilla.

Tanto de um lado: “Ela vai mudar/Vai gostar de coisas que ele nunca imaginou/ Vai ficar feliz de ver que ele também mudou/Pelo jeito não descarta uma nova paixão

Quanto de outro: “Ele vai mudar/Escolher um jeito novo de dizer ‘alô’/Vai ter medo de que um dia ela vá mudar/Que aprenda a esquecer sua velha paixão"

(Ah, e diga-se: desde Stevie Wonder não se via um uso da talking box tão legal).




1-Bob Dylan – “Don’t Think Twice It’s Alright” (1963)

Tendo escrito sobre tudo e todos, Dylan expurgou demônios afetivos em mais de uma ocasião. Faço uma menção especial para “It’s All Over Now, Baby Blue” (1965), mas para mim o grande momento de terapia conjugal do Sr. Zimmermam veio logo em seu segundo e antológico álbum, “The Freewheelin’ Bob Dylan” (de 1963, o primeiro com canções de sua autoria), com a lindíssima "Don't Think Twice It's Alright".

Depois de sair sorrateiramente, sem deixar sequer um bilhete ("When your rooster crows at the break of dawn/ Look out your window and I’ll be gone"), Dylan começa o lamento em forma de carta. Diz sentir-se sufocado e, para ilustrá-lo, relembra o trauma de um relacionamento antigo (“I gave her my heart but she wanted my soul”) e lava um pouco de roupa suja ("You could have done better but I don’t mind") enquanto põe o pé na estrada. Em seu melhor estilo, sem olhar para trás. Para que debater a relação, afinal, se “We never did too much talkin’ anyway”?


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quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Só no ano que vem



Outubro foi em sua maioria generoso com Barcelona, e até outro dia marmanjos de calças curtas sorviam chopes embaixo do nosso nariz, mais conhecido como nossa varanda. But the party is over, e os aproximados dez dias que levamos de friozinho já vão nos acostumando à nítida noção de que o verão nunca existiu. Calor só no ano que vem, e bota ano que vem nisso: abril ou maio estão longe.

Tempo, portanto, de desembolotar a pantufa e azeitar a conexão de internet para que o bom e velho Cuevana.tv não trave aquele episódio de “Mad Men” ou “Modern Family”. Tempo, também, de cobrir com lona as piscinas e pendurar a peneira.

No início da temporada ensolarada, a presença destas nossas amigonas azuis e clorificadas no mundo pop foi homenageada aqui com um animado Top 10 capas de disco com piscinas ocupadas. Conforme prometido na ocasião, encerramos este verão com um Top 5 capas com piscinas vazias (de gente, não de água). E bora lá fazer aquele chá.


5-Morphine – “Like Swimming” (1997)

Meio segundo antes e esta foto teria servido para o post das ocupadas.

4-Beach House – “Used to Be” (single – 2008)

Nem um sol de 40 graus salva os motéis americanos da decadência. Vivo, Norman Bates daria suas bombas aqui, nadando cachorrinho com a mãe empalhada.

3-Good Shoes – “No Hope, No Future” (2010)

É mais ou menos que nem nas unidades do Sesc. Te vendem este oásis de tranquilidade no catálogo, mas quando você chega lá é sete, oito negos por raia.

2-Titãs – “Domingo” (1995)

Ainda na ressaca de Arnaldo e do pouco sucesso de “Titanomaquia”, só uma piscininha salvava os Titãs.

1-Red Hot Chili Peppers – “Californication” (1999)

Californicação: barrigadas em nuvens de fogo sob um céu feito de mar.

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terça-feira, 11 de outubro de 2011

Dia das Crianças: os desenhinhos



Dia das Crianças já virou tradição no Mala da Lista. Em edições anteriores da data, publiquei as melhores capas com músicos na infância, ou simplesmente as melhores capas com crianças e bebês. A molecada também compareceu neste top 10 especial de nascimento do André, o Malinha da Lista.

Em 2011, esta semana é duplamente da Criança. Pelo dia 12 de sempre, vulgo amanhã, mas também porque começam oficialmente as atividades na guardería (creche) dele, da qual somos orgulhosos cofundadores.

Na verdade o pequeno perdeu os primeiros dias “para valer” por causa de uma febre, ainda que já tivesse participado, com os pais e se saindo muito bem, da temida fase de adaptação: não chorou, não cometeu bullying, não apanhou. Ficou na dele.

Aliás, graças à pedagogia Waldorf, durante esta mesma adaptação eu por fim dei um significado legítimo a uma antiga expressão linguística, aparentemente niilista. Os pais eram recomendados a realizar “atividades manuais” enquanto acompanhavam o desempenho dos filhos. Totalmente bronco neste quesito, fingi que lixava um toco de madeira para dar-lhe a forma de um belo nada. Por meia hora estive, portanto “pouco me lixando”.

Fossem estas atividades manuais uns desenhos, os resultados poderiam ser mais produtivos e até figurar neste novo ranking: o de capas de discos que foram ou parecem ter sido ilustradas por crianças.


10- Neil Young & Crazy Horse – “Zuma” (1975)


Em algum idioma “Zuma” deve querer dizer “mulher nua sobrevoa um cacto suspensa por uma cegonha”.

9-Mallu Magalhães – “Mallu Magalhães” (2008)


O som já era over-fofo. Precisava também do leãozinho bobo?

8-Oscar Peterson – “Put on a Happy Face” (1962)


O jazz aqui é de tal qualidade que a carinha feliz é daí para cima.

7- John Lennon – “Walls and Bridges” (1974)



Se não faltava feeling ao John músico da idade adulta, tampouco dá para dizer que a versão infantil do gênio fosse um completo desastre na prancheta. Pelo contrário.

6-The Cure – “The Cure” (2004)


Se entrasse um coleguinha chamado Robert Smith em minha classe no Infantil 2, eu o retrataria mais ou menos assim.

5-Mudhoney - “Every Good Boy Deserves Fudge” (1991)


Eu e meu amigo Marquinhos tínhamos mais ou menos o tamanho destes bonequinhos quando ensaiávamos a nossa versão de “Good Enough”, clássico presente no disco.

4-Tortoise – “TNT” (1998)



Um encarte ultra-simples – o único capaz de transformar uma embalagem de CDR em fetiche – que é a doce antítese do complexo (e maravilhoso) som que traz em seu interior. Até o personagem, uma espécie de Gasparzinho na puberdade, parece intrigado com a quantidade de referências desconstruídas e recombinadas pelo célebre grupo de Chicago.

3-Bauhaus – “Mask” (1981)



Em se tratando de uma das bandas góticas por excelência, nem o urso de pelúcia – concebido pelo guitarrista Daniel Ash - escapa de ser sinistro.

2-Einstürzende Neubauten – “Kollaps” (1981)


Em algum lugar eu vi que este desenho é do período Neolítico, ou algo do gênero. Possivelmente – por que não? – de alguma criança. De qualquer modo, excelente maneira de representar o brutal experimentalismo dos alemães dos quais gosto, mas cujo nome nunca, jamais saberei pronunciar.

1-Maurício Takara – “M.Takara” (2003)


A pior coisa que pode acontecer na vida de alguém é ser minha dupla no “Imagem & Ação”: sou o pior desenhista que conheço, e desafio qualquer um a me tirar deste trono. Talvez por isso me identifique com desenhos que, como este, sejam tão toscos e ao mesmo tempo transmitam alguma emoção. Neste caso, ainda é o cartão de visitas de um belo álbum. Mais legal todavia é o fato do retrato ter sido traçado durante a infância pelo irmão mais velho do artista (o também músico Daniel Ganjaman), e que o “original” foi salvo de uma definitiva lata de lixo aos 45 minutos do segundo tempo (sim, a textura de “amassado” é genuína).


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segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Trem Bão



Meu cunhado, Theo Craveiro, é artista dos bons. E, numa prova de amor à arte daquelas que pouco se vê, passou quatro dias em diferentes trens na Europa, lidando com oficiais de segurança não necessariamente amistosos, levando portadas diplomáticas e... carregando três colônias de formigas amazônicas escondidas na mala.

Os insetos, vivos, são o epicentro vivo do trabalho que Theo exibiu semanas atrás na Bienal de Istambul, na Turquia (clique no nome dele para saber mais). São, também, a razão pela qual o tio do meu filho preferiu embarcar nesta verdadeira farofada ferroviária de Berlim à capital turca, trajeto equivalente a um “Oiapoque ao Chuí” europeu, com medo de ter as bichinhas confiscadas em aviões.

E como se não bastasse toda a sua simbologia (Oriente-Ocidente, Primeiro Reich-Constantinopla), a cruzada contou com obstáculos dignos de legenda: o oficial sérvio mandando o artista voltar a Budapeste pela ausência do visto, a posterior travessia por enferrujados trilhos da remota Bulgária e as indagações mal-humoradas dos guardas do vagão até a chegada à cidade turca Edirne, onde um pesquisador especializado em formigas daria aquela força. De quebra, Theo estava amarradão no Ramadã, ao qual aderiu, diz, para “pesquisar jejuns”. “Deu tudo certo graças a Alah”, comemorou.

Em homenagem à epopeia colossal de meu cunhado - vagando por trens vazios, parando em estações fantasmagóricas, sem banho, comida ou bebida, inalando chulés que não distinguem credo, cor ou raça, só faltando encontrar Átila, o huno, pelo caminho, e ainda com formigas “em cima” -, preparei um top 10 com canções que usam o trem como metáfora ou imagem real.



10-Tom Waits – “Downtown Train” (1985)

Depois regravada por Rod Stewart, é uma das faixas mais pop da carreira de Waits. Com direito a ele bailando no clipe e tudo mais.




9-Paralamas do Sucesso – “Uns Dias” (1988)

Aparentemente, o “expresso do Oriente” mencionado no primeiro verso é uma metáfora para o amor que acabou em dor de corno. Afinal “rasga a noite, passa rente e leva tanta gente que eu até perdi a conta”.



8-Guns n’Roses – “Nightrain” (1987)

Extraído da histórica temporada na casa nova-iorquina Ritz, em 1988, o vídeo abaixo registra a “banda mais perigosa do mundo” passando como um trem noturno sobre a plateia. Steven Adler ainda era o baterista; Izzy Stradlin ainda era um dos guitarristas, com Slash; e Axl ainda gostava mais de New York Dolls e Stones do que Elton John.




7-Jimi Hendrix – “Hear My Train A’Coming” (entre 1969 e 1970)

Tendo-se em conta a fama de garanhão de Jimi, tende-se a farejar conotações sexuais em uma frase como “escute o meu trem chegando”, com o agravante de que “coming” possui o sentido duplo mais famoso da indústria pornô. Mas uma lida rápida na letra inteira mostra outro contexto, mais sério, do guitarrista exorcizando racismo e outros demônios que o perseguiram antes da fama, em versos como “estou esperando aquele trem/para me levar deste lugar solitário” ou então “que mal que a sua gente me despreza”. Em violão de doze cordas, fica ainda mais doído. Jimi tinha mesmo que pegar aquele trem.




6-The Cure – “Jumping Someone Else’s Train” (1979)

Os ingleses costumam ter grandes expressões. Esta, que só ouvi neste temazo do Cure, é das melhores entre as equivalentes ao nosso “Maria vai com as outras”: fulano ou fulana está sempre “pulando no trem de alguém mais” para se atualizar, ou estar na moda. Vídeo histórico, da banda em seu começo, ainda em trio. Então Robert Smith tocava a canção em pitch até mais acelerado do que a versão original. Dos anos 1990 para cá, como pude comprovar em show de 2008, os BPMs dos góticos cinquentões baixaram quase pela metade na hora de recuperar o repertório do primeiro disco.




5-James Brown – “Nigh Train” (1964)

Lançado originalmente em 1951 por Jimmy Forrest, um de seus autores, este rhythm and blues ganhou energia atômica na versão do Godfather of Soul. Basicamente, ele insere seus conhecidos improvisos vocais em meio ao tema instrumental, que soa não menos que uma locomotiva ensandecida. O imperdível vídeo é uma delirante aula de dança do homem que anteviu a maioria dos passos de Michael Jackson. O público adolescente, cavalgando nas cadeiras, simplesmente não deixa o homem ir embora.




4-The Clash – “Train inVain” (1979)

Um disco monumental como “London Calling” tinha que ter um final à sua altura. E “Train in Vain”, do sempre melódico Mick Jones - o Paul McCartney do Clash -, não decepciona em seu desamor: Jones “perdeu o trem” de alguma senhora. Até hoje enche pistas pela noite, mesmo quando não é tocada (sua levada de bateria foi sampleada pelo Garbage em “Stupid Girl”, de 1995).




3-Milton Nascimento e Lô Borges – “Trem de Doido” (1972)

Mineiro fala tanto “trem” que no histórico “Clube da Esquina”, o disco das Minas Gerais por excelência, há duas canções sobre o assunto. Duas senhoras composições, senhoras o suficiente para simbolizar a beleza e a melancolia de todo o álbum. No embate final entre os dois clássicos coescritos por Lô, “Trem Azul” (com Ronaldo Bastos) e “Trem de Doido” (com Márcio Borges), optei pela segunda. Para mim, uma parábola sobre ser jovem e desejar permanecer como tal. “Nada a temer/Nada a combinar/Na hora de achar lugar no trem/E não sentir pavor/ Dos ratos soltos na casa”.




2-R.E.M. – “Driver 8” (1985)

Vocês sabiam que o R.E.M., após 31 anos de sólida carreira e 15 álbuns de estúdio – a maioria bons - acabou esta semana? Separação amigável, como não poderia deixar de ser em se tratando de uma das bandas com integrantes mais “bonzinhos” da história (quem não se lembra de Michael Stipe ameaçando Hommer Simpson com uma garrafa quebrada, para depois refletir e decidi coletar os cacos para reciclá-os?).

Pois comece a lamentar a ausência do trio de Athens, Georgia – que lançou seu último disco este ano – com este road movie ferroviário musicado, em cujo refrão o “maquinista 8” é recomendado a dar um break, já que está no comando há muito tempo. Uma das melhores músicas da banda, em vídeo de quando Stipe ainda tinha cabelos, e os tingia de amarelo.




1-Kraftwerk – “Trans-Europe Express” (1977)

Ora, que outra canção que não esta poderia coroar um ranking sobre uma travessia europeia em trem? E não só por isso. Como fez na maioria de suas músicas, o quarteto alemão sintetiza aqui, com apenas um primitivo beat eletrônico, três palavras e uma melodia de sintetizador, todo um tratado de ideias. No caso, partia de um tributo direto a uma companhia com este nome, Trans-Europe Express (ativa entre os anos 1950 e 1990) para tecer um comentário retro-futurista do que viria a ser a Europa moderna interligada. O riff, por sinal, foi crucial na fundação do hip-hop ao ser sampleado por Afrika Bambaataa no pancadão “Planet Rock”, cinco anos depois. Atenção para o “estaile” dos germânicos no clipe.


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