quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

10 razões para amar os anos 90

Em “Eu Sabia que isso ainda ia acontecer”, primeiro texto que publiquei em minha extinta coluna Massa Sonora, no site da MTV, há exatos 10 anos e oito dias, eu me espantava com o então emergente revival oitentista. Também tentava desenvolver a teoria de domínio público segundo a qual cultua-se, misteriosamente, sempre duas décadas para trás. Eu sou prova viva: bailei twist nos 80, curti um funk setenteiro nos 90 e, embora ao escrever aquele texto ainda achava meio absurda a volta do synth pop e das ombreiras, não muito tempo mais tarde assumiria as baquetas do Jumbo Elektro.

Pois a tal teoria continua valendo. E ousaria acrescentar mais um argumento: é no ano “2” (o terceiro de um decênio, por tanto), que o resgate começa a pegar. Os sintomas vão além das camisas xadrez em coleções de moda, ou os rabos-de-cavalo e barbichas que andam crescendo nas redondezas.  Por exemplo, o Primavera Sound, melhor festival de música de Barcelona (ocorre entre o fim de maio e o começo de junho), é destes que sempre puxa um cordão, antecipando modinhas.

E, se nas últimas edições já vinha oferecendo lapadas de britpop, grunge e trip-hop, para 2012 preparou uma verdadeira escalação-manifesto em homenagem aos anos 90, com Mazzy Star, Guided By Voices, Afghan Whigs, Mudhoney, Melvins, Björk, Yo La Tengo e outros. Até o Cure, um dos nomões do evento, celebrará os vinte anos de seu álbum “Wish”.  Tributo semelhante ao que o Helmet – grupo noventeiro por excelência – fará com a pedrada “Meantime” em show previsto para março.

Será, admito, um revival fácil de abraçar. Foi nos 90 que minha geração passou da adolescência para a er... idade adulta, a época em que, para quem gosta de música, a cobra - tá bom, não só a cobra - começa a fumar. Sendo assim, só resta ao Mala da Lista relembrar aqui 10 razões musicais para amar, ou voltar a amar aqueles anos. Na forma de álbuns gringos que eu, você e todo mundo precisa (re) escutar. Acompanham clipes ou registros ao vivo da época, para a imersão estética ficar completa.

10-Faith No More – “Angel Dust” (1992)


Metal torto, quase cubista, para se ouvir em cabarés. Resultado do encontro de imaginação, humor e coragem com som pesado.

Se não fosse tão bom, quem entraria na lista: Nine Inch Nails - “Downward Spiral” (1994).




9- Public Enemy – “Fear of a Black Planet” (1990)


O elo perdido e abençoado entre o hip-hop mais naïve e a farofada gangsta era simples e mortal: batidas de James Brown, ruídos infernais, política e pau em todo mundo, de Hollywood a Elvis.

Se não fosse tão bom, quem entraria na lista: The Roots - “Things Fall Apart” (1999).




8-Beck – “Odelay” (1996)


Um muito de tudo misturado e mais um pouco. Ainda assim, de uma originalidade absurda.

Se não fosse tão bom, quem entraria na lista: DJ Shadow – “Entroducing...” (1996)




7-U2 – “Achtung Baby” (1991)


Na guilhotina da virada da década, ninguém teve tantos colhões para mudar quanto esta banda. Que, abraçando a malícia dançante e a auto-paródia psicodélica, continuou grandiosa.

Se não fosse tão bom, quem entraria na lista: Depeche Mode – “Violator” (1990). 




6-Nirvana – “Nevermind” (1991)



Descontada a lenda, é uma espécie de disco-resumo do que foi a primeira metade da década.

Se não fosse tão bom, quem entraria na lista: Teenage Fanclub - “Bandwagonesque” (1991).




5-My Bloody Valentine – “Loveless” (1991)


A invenção das guitarras em 3D.

Se não fosse tão bom, quem entraria na lista: Sonic Youth – “Dirty” (1992)







4-Massive Attack – “Mezzanine” (1998)

Caso o mundo tivesse acabado mesmo em 31 de dezembro de 1999, a trilha sonora estava pronta. E teria sido bonito.

Se não fosse tão bom, quem entraria na lista: Portishead - “Dummy” (1994).




3-Radiohead – “OK Computer” (1997)


Atualização sonora das paranoias do final do milênio, que de quebra antecipou a década seguinte.

Se não fosse tão bom, quem entraria na lista: Tortoise - “TNT” (1998).




2-Red Hot Chili Peppers – “Blood Sugar Sex Magik” (1991)


O encontro da então melhor banda ao vivo do mundo com o produtor dos últimos 25 anos (Rick Rubin). Numa mansão assombrada em Hollywood.

Se não fosse tão bom, quem entraria na lista: Fishbone - “Give a Monkey a Brain... and He’ll Swear He’s the Center of the Universe" (1993).




1-Beastie Boys – “Check Your Head” (1992)


Tudo o que o hip-hop, ou a música em si, pode ser quando nas mãos de criadores geniais e desrespeitosos a barreiras de estilo.

Se não fosse tão bom, quem entraria na lista: Urban Dance Squad - “Life n’Perspectives of a Genuine Crossover” (1991). 



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quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Liquidação total



As liquidações espanholas, iniciadas esta semana, são mesmo tudo isso o que falam. É camisa de 5 euros para um lado, sapato de 15 para o outro. Sem exageros, refaz-se aqui um guarda-roupas com o que se gastaria em uma única peça em lojas metidas de São Paulo.

Por estas e por outras, as rebajas, ou rebaixes, em catalão (ou ainda “rebarbas”, como rebatizou involuntaria mas genialmente minha querida sogra Bia) acabam sendo uma atração turística por si só no bajón do inverno europeu. Verdadeiros “motivos para soltar rojões”, nas palavras de minha grande irmã Adriana neste post sobre o assunto em seu blog.

De tão humana, a ânsia consumista – seja com 50% desconto ou não – não passa despercebida por compositores, tampouco por criadores de encartes de discos. As canções ficam para outra lista; por hora visitamos as dez melhores capas que discutem/homenageiam/criticam o consumismo, ilustradas em lojas, mercados, produtos ou outras referências no contexto.


10-Barão Vermelho – “Puro Êxtase” (1998)

O que as pessoas não fazem quando bate a vergonha alheia (no caso da moça, pela tentativa de fazer música eletrônica do Barão).


9-The Small Faces – “Me, You and Us Too” (1999)

Fosse no Brasil, a capa desta coletânea dos ingleses empacaria nos tribunais. Ou a Ambev, dona da Pepsi, liberaria sua Skol para posar ao lado da Coca-Cola?


8-Beastie Boys – “Paul’s Boutique” (1989)

Inspirados em um anuncio que escutavam em uma mixtape de música jamaicana, Mike D, Ad-Rock e MCA quiseram criar uma loja com o mesmo nome, e que “vendesse” objetos que representassem o conceito (revolucionário) do álbum, um eclético saco de gatos de samples remendados. Mandaram fazer a placa “Paul’s Boutique” e usaram o bazar Lee’s Sportswear, no Lower East Side, de Nova York, na sessão de fotos comandada por Jeremy Shatan.


7-Gilberto Gil – “O Sol de Oslo” (1998)

Vale mais pelo carrinho de côcos em si do que sua ideia subentendida, a de tentar formar a bandeira do Brasil com as frutas.


6-Gruff Rhys – “Hotel Shampoo” (2011)

Não sei, mas esta coleção deve ter sido acumulada no tempo em que a banda de Rhys, o Super Furry Animals, subia ao palco vestida em enormes trajes de pelúcia. Nas emergências de palco – leia-se cusparadas, vômitos e latas de cervejas atiradas nos big bichanos – um xampuzinho guardado no bolso não ia nada mal.


5-Tom Zé – “Grande Liquidação” (1968)

Credita-se a uma certa Oficina Programação Visual SP esta capa que, como a música do gnomo de Irará, antecipava uma estética em algumas décadas.


4-Eli “Paperboy” Reed – “Come and Get It!” (2010)

A música do neo-soulman Reed é mais suja do que esta fotografia insinua. O que não influi em nada no quão bacana é a capa.


3-The S.O.S. Band – “The S.O.S. Band III” (1982)

Poderiam ter produzido uma estante menos fake, mas a linha de produtos S.O.S., a pinta do sujeito de espanador na mão e, principalmente, a pernuda de polainas contorcida no carrinho garantem a diversão visual.


2-Stevie Wonder – “Signed, Sealed & Delivered” (1970)

“Foi aqui que pediram um gênio cego da música afroamericana?”. Projeto de Curtis McNair, autor de capas de outros clássicos da Motown, como “What’s Going On” de Marvin Gaye e “Psychedelic Shack”, dos Temptations.


1-The Who – “The Who Sell Out” (1967)

David Montgomery, o fotógrafo responsável por esta portada eterna, admitiu anos depois que estava morrendo de medo do que a combinação The Who + ensaio envolvendo comida poderia gerar. Em 1967, a reputação da banda era possivelmente a pior de toda a fauna rock. Para sua perplexidade, porém, os quatro mods se comportaram bem. Segundo Montgomery, o vocalista Roger Daltrey quase pegou pneumonia depois da sessão, de tanto que permaneceu pacientemente na fria megafeijoada na qual mergulhou. A enorme lata Heinz depois viraria mesa da casa do fotógrafo.
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