Algum “gênio” que escolha, vamos supor, os girassóis de Van Gogh para ilustrar a cara de sua bolacha, terá que disputar com grossa concorrência o predomínio nos tags que digam “flores” nos mecanismos de busca virtual.
Claro que, dentro do mesmo tema, dá sempre para selecionar belas amostras. Caso contrário este blog não existiria. Portanto, aproveitando o exemplo do parágrafo anterior, este post se despede da truculência do boxe e diz “olá” às flores. Aqui estão as 10 melhores capas de discos estampadas com as benditas. Percebam a predominância das rosas, estas ancestrais obsessões humanas.
Embora somente discos de que eu gosto bastante ou que ache bem interessantes tenham sido selecionados, o critério é pelas capas que acho mais legais dentro deste tema. Se fosse pelos álbuns em si, a ordem do Top 10 provavelmente seria outra.
10- Kate Bush – “Sensual World” (1989) – Capa: John Carder Bush
Beirando o excesso de dramatismo, Kate Bush quis passar aqui a sensação de estranheza que quase sempre acompanhou o seu trabalho. Este disco, aliás, é inclassificável como os outros que ela fez na década de 1980. Seu irmão mais velho, que além de fotógrafo é escritor e poeta, captou a mensagem.
9-Caetano Veloso – “Circuladô” (1991) – Capa: Caetano Veloso e Lívio Campos
A influência do poeta concretista paulistano Haroldo de Campos (1929-2003) em Caetano parece ter ido além do poema “Circuladô de Fulô”, que o cantor musicou e utilizou como tema deste álbum. Os recortes do olho direito e da boca de Caê, sobrepostos pelo próprio sobre um girassol (ou isso creio), são o complemento plástico da proposta. As distorções da guitarra no wave do americano abrasileirado Arto Lindsay, produtor responsável, fecham o pacote.
8-Hüsker Dü – “Warehouse: Songs and Stories” (1987) – Capa: Daniel Corrigan
Fotógrafo favorito de Soul Asylum, Replacements e outras bandas da cena indie de Minneapolis dos anos 1980 e 1990, o americano Daniel Corrigan ganhou da mais notória delas, o Hüsker Dü, carta branca para a foto frontal deste discão, a coleção definitiva de canções raivosas e melódicas do trio capitaneado por Bob Mould. Não deu outra: flores.
7-The Cure – “Disintegration” (1989) – Capa: ???
Pode ser que meu gosto para capas – ou flores – seja criticado pela escolha desta. Mas ela representa tão bem a explosão de romantismo do disco, com Robert Smith naufragando entre pétalas, memórias e amores platônicos, que vai para o trono. O “Sgt. Peppers” dos melancólicos tinha que ter uma capa melodramática. Afinal, nunca foi tão gostoso ser triste quanto nos 71 minutos e 42 segundos de “Disintegration”.
*Para minha tristeza – ou alegria – estou a milhares de quilômetros de distância deste meu LP, e em vários sites não encontrei o responsável pelo artwork do disco. Se alguém souber, por favor me conte.
6-Nick Cave & the Bad Seeds – “No More Shall We Part” (2001) – Capa: Tony Clark
Eu tenho um jardim em casa, mas não sei quais são as flores pintadas pelo artista australiano Tony Clark nesta capa. Novamente, ele acertou ao captar a atmosfera sonora, a das lamúrias lentas e elegantes, em busca da cura para corações partidos. Para quem prefere o Nick Cave cantor ao Nick Cave gritalhão.
5-Martinho da Vila – “Rosa do Povo” (1976) – Capa: Elifas Andreato
Com lugar cativo entre os principais capistas brasileiros, sobretudo na década de 1970, o artista paranaense Elifas Andreato utilizou diferentes padrões em bolachas importantes. Para citar algumas delas, recorramos às marcas dos pés de Clementina de Jesus em álbum homônimo da sambista de 1980, ou ao vagabundo no banco do trem de “Ópera do Malandro” (1979), de Chico Buarque. Mas sua opção mais marcante foi pelos desenhos, fossem eles baseados em retratos dos cantores – como ocorreu em LPs de Paulinho da Viola e Adoniran Barbosa, entre outros – ou os que simplesmente sugerissem imagens fortes, como nesta "cover" de Martinho da Vila.
4-Depeche Mode – “Violator” (1990) – Capa: Anton Corbijn
É difícil bater o homem multimídia Anton Corbijn quando o assunto é imagem de bom gosto no mundo pop. Autor das fotos definitivas de dezenas de bandas influentes - entre elas Joy Division e U2 - diretor de uma infinidade de clipes e criador de cenários para shows, ele também cuida de capas de discos. E muitas. Esta, de um dos melhores e mais góticos álbuns do Depeche Mode (grupo para o qual dirige quase todos os vídeos), é um verdadeiro ícone gráfico. Não foi por acaso que, quando estreou como diretor de longas, Corbijn mandou uma bola no ângulo com “Control” (2007), biopic de Ian Curtis, vocalista do JD.
3-Red Hot Chili Peppers – “Blood Sugar Sex Magik” (1991) – Capa: Henk Schiffmacher e Gus Van Sant
O que é legal na “portada” desta pedrada que escuto com razoável frequência há 18 anos é a rosa como elemento muito mais sexual e exótico do que romântico ou melancólico. Afinal, até este disco, os Chili Peppers não queriam saber de frescurinhas e tocavam pau. Sem querer, foram também precursores na fetichezação de suas próprias tatuagens. Todas são exibidas individualmente no encarte interno, após terem sido fotografadas por ninguém menos que o badaladíssimo diretor americano Gus Van Sant. Os desenhos tribais unindo a rosa central às bocas de Anthony, Flea, Frusciante e Chad são do célebre tatuador holandês Henk Schiffmacher, responsável por boa parte da arte corporal dos quatro pimentas.
O que é legal na “portada” desta pedrada que escuto com razoável frequência há 18 anos é a rosa como elemento muito mais sexual e exótico do que romântico ou melancólico. Afinal, até este disco, os Chili Peppers não queriam saber de frescurinhas e tocavam pau. Sem querer, foram também precursores na fetichezação de suas próprias tatuagens. Todas são exibidas individualmente no encarte interno, após terem sido fotografadas por ninguém menos que o badaladíssimo diretor americano Gus Van Sant. Os desenhos tribais unindo a rosa central às bocas de Anthony, Flea, Frusciante e Chad são do célebre tatuador holandês Henk Schiffmacher, responsável por boa parte da arte corporal dos quatro pimentas.
2-New Order – “Power, Corruption & Lies” (1983) – Capa: Peter Saville
O artista inglês Peter Saville está para as capas mais ou menos como Anton Corbijn para os clipes e fotos. Peça-chave na estética minimalista e gelada dos projetos gráficos da mítica gravadora Factory, de Manchester, ele assinou trabalhos para um batalhão de talentos, de Joy Division a Paul McCartney, passando por Pulp e Goldie. Esta é de uma beleza corrosiva e irônica, ou pelo menos o foi nos momentos em que seus compradores primordiais descobriram que o nome do longplay, oculto na versão original (esta), era “Poder, Corrupção e Mentiras”.
1– The Beatles – “Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band” (1967) – Capa: Peter Blake
Garanto que a música sobrenatural que emana dos sulcos deste disco de 42 anos de idade não influenciou na posição desta capa no Top 10. O critério aqui foi a criatividade no uso das flores. O nome da banda, uma imagem hindu e algo que se parece a um instrumento de cordas foram reproduzidos em arranjos florais. Logo os conspiradores diriam que o tal instrumento era o baixo de Paul McCartney, aumentando a lista de indícios para a tese de que o canhoto estaria morto já àquela época. O que torna o trabalho de Peter Blake, um dos pioneiros da pop art e autor de projetos gráficos para gente como Paul Weller e Clapton, ainda mais mágico e misterioso.
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