Em “Eu Sabia que isso ainda ia acontecer”, primeiro texto que publiquei em minha extinta coluna Massa Sonora, no site da MTV, há exatos 10 anos e oito dias, eu me espantava com o então emergente revival oitentista. Também tentava desenvolver a teoria de domínio público segundo a qual cultua-se, misteriosamente, sempre duas décadas para trás. Eu sou prova viva: bailei twist nos 80, curti um funk setenteiro nos 90 e, embora ao escrever aquele texto ainda achava meio absurda a volta do synth pop e das ombreiras, não muito tempo mais tarde assumiria as baquetas do Jumbo Elektro.
Pois a tal teoria continua valendo. E ousaria acrescentar mais um argumento: é no ano “2” (o terceiro de um decênio, por tanto), que o resgate começa a pegar. Os sintomas vão além das camisas xadrez em coleções de moda, ou os rabos-de-cavalo e barbichas que andam crescendo nas redondezas. Por exemplo, o Primavera Sound, melhor festival de música de Barcelona (ocorre entre o fim de maio e o começo de junho), é destes que sempre puxa um cordão, antecipando modinhas.
E, se nas últimas edições já vinha oferecendo lapadas de britpop, grunge e trip-hop, para 2012 preparou uma verdadeira escalação-manifesto em homenagem aos anos 90, com Mazzy Star, Guided By Voices, Afghan Whigs, Mudhoney, Melvins, Björk, Yo La Tengo e outros. Até o Cure, um dos nomões do evento, celebrará os vinte anos de seu álbum “Wish”. Tributo semelhante ao que o Helmet – grupo noventeiro por excelência – fará com a pedrada “Meantime” em show previsto para março.
Será, admito, um revival fácil de abraçar. Foi nos 90 que minha geração passou da adolescência para a er... idade adulta, a época em que, para quem gosta de música, a cobra - tá bom, não só a cobra - começa a fumar. Sendo assim, só resta ao Mala da Lista relembrar aqui 10 razões musicais para amar, ou voltar a amar aqueles anos. Na forma de álbuns gringos que eu, você e todo mundo precisa (re) escutar. Acompanham clipes ou registros ao vivo da época, para a imersão estética ficar completa.
10-Faith No More – “Angel Dust” (1992)
Metal torto, quase cubista, para se ouvir em cabarés. Resultado do encontro de imaginação, humor e coragem com som pesado.
Se não fosse tão bom, quem entraria na lista: Nine Inch Nails - “Downward Spiral” (1994).
9- Public Enemy – “Fear of a Black Planet” (1990)
O elo perdido e abençoado entre o hip-hop mais naïve e a farofada gangsta era simples e mortal: batidas de James Brown, ruídos infernais, política e pau em todo mundo, de Hollywood a Elvis.
Se não fosse tão bom, quem entraria na lista: The Roots - “Things Fall Apart” (1999).
8-Beck – “Odelay” (1996)
Um muito de tudo misturado e mais um pouco. Ainda assim, de uma originalidade absurda.
Se não fosse tão bom, quem entraria na lista: DJ Shadow – “Entroducing...” (1996)
7-U2 – “Achtung Baby” (1991)
Na guilhotina da virada da década, ninguém teve tantos colhões para mudar quanto esta banda. Que, abraçando a malícia dançante e a auto-paródia psicodélica, continuou grandiosa.
Se não fosse tão bom, quem entraria na lista: Depeche Mode – “Violator” (1990).
6-Nirvana – “Nevermind” (1991)
Descontada a lenda, é uma espécie de disco-resumo do que foi a primeira metade da década.
Se não fosse tão bom, quem entraria na lista: Teenage Fanclub - “Bandwagonesque” (1991).
5-My Bloody Valentine – “Loveless” (1991)
A invenção das guitarras em 3D.
Se não fosse tão bom, quem entraria na lista: Sonic Youth – “Dirty” (1992)
4-Massive Attack – “Mezzanine” (1998)
Caso o mundo tivesse acabado mesmo em 31 de dezembro de 1999, a trilha sonora estava pronta. E teria sido bonito.
Se não fosse tão bom, quem entraria na lista: Portishead - “Dummy” (1994).
3-Radiohead – “OK Computer” (1997)
Atualização sonora das paranoias do final do milênio, que de quebra antecipou a década seguinte.
Se não fosse tão bom, quem entraria na lista: Tortoise - “TNT” (1998).
2-Red Hot Chili Peppers – “Blood Sugar Sex Magik” (1991)
O encontro da então melhor banda ao vivo do mundo com o produtor dos últimos 25 anos (Rick Rubin). Numa mansão assombrada em Hollywood.
Se não fosse tão bom, quem entraria na lista: Fishbone - “Give a Monkey a Brain... and He’ll Swear He’s the Center of the Universe" (1993).
1-Beastie Boys – “Check Your Head” (1992)
Tudo o que o hip-hop, ou a música em si, pode ser quando nas mãos de criadores geniais e desrespeitosos a barreiras de estilo.
Se não fosse tão bom, quem entraria na lista: Urban Dance Squad - “Life n’Perspectives of a Genuine Crossover” (1991).
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quinta-feira, 26 de janeiro de 2012
10 razões para amar os anos 90
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