quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Liquidação total



As liquidações espanholas, iniciadas esta semana, são mesmo tudo isso o que falam. É camisa de 5 euros para um lado, sapato de 15 para o outro. Sem exageros, refaz-se aqui um guarda-roupas com o que se gastaria em uma única peça em lojas metidas de São Paulo.

Por estas e por outras, as rebajas, ou rebaixes, em catalão (ou ainda “rebarbas”, como rebatizou involuntaria mas genialmente minha querida sogra Bia) acabam sendo uma atração turística por si só no bajón do inverno europeu. Verdadeiros “motivos para soltar rojões”, nas palavras de minha grande irmã Adriana neste post sobre o assunto em seu blog.

De tão humana, a ânsia consumista – seja com 50% desconto ou não – não passa despercebida por compositores, tampouco por criadores de encartes de discos. As canções ficam para outra lista; por hora visitamos as dez melhores capas que discutem/homenageiam/criticam o consumismo, ilustradas em lojas, mercados, produtos ou outras referências no contexto.


10-Barão Vermelho – “Puro Êxtase” (1998)

O que as pessoas não fazem quando bate a vergonha alheia (no caso da moça, pela tentativa de fazer música eletrônica do Barão).


9-The Small Faces – “Me, You and Us Too” (1999)

Fosse no Brasil, a capa desta coletânea dos ingleses empacaria nos tribunais. Ou a Ambev, dona da Pepsi, liberaria sua Skol para posar ao lado da Coca-Cola?


8-Beastie Boys – “Paul’s Boutique” (1989)

Inspirados em um anuncio que escutavam em uma mixtape de música jamaicana, Mike D, Ad-Rock e MCA quiseram criar uma loja com o mesmo nome, e que “vendesse” objetos que representassem o conceito (revolucionário) do álbum, um eclético saco de gatos de samples remendados. Mandaram fazer a placa “Paul’s Boutique” e usaram o bazar Lee’s Sportswear, no Lower East Side, de Nova York, na sessão de fotos comandada por Jeremy Shatan.


7-Gilberto Gil – “O Sol de Oslo” (1998)

Vale mais pelo carrinho de côcos em si do que sua ideia subentendida, a de tentar formar a bandeira do Brasil com as frutas.


6-Gruff Rhys – “Hotel Shampoo” (2011)

Não sei, mas esta coleção deve ter sido acumulada no tempo em que a banda de Rhys, o Super Furry Animals, subia ao palco vestida em enormes trajes de pelúcia. Nas emergências de palco – leia-se cusparadas, vômitos e latas de cervejas atiradas nos big bichanos – um xampuzinho guardado no bolso não ia nada mal.


5-Tom Zé – “Grande Liquidação” (1968)

Credita-se a uma certa Oficina Programação Visual SP esta capa que, como a música do gnomo de Irará, antecipava uma estética em algumas décadas.


4-Eli “Paperboy” Reed – “Come and Get It!” (2010)

A música do neo-soulman Reed é mais suja do que esta fotografia insinua. O que não influi em nada no quão bacana é a capa.


3-The S.O.S. Band – “The S.O.S. Band III” (1982)

Poderiam ter produzido uma estante menos fake, mas a linha de produtos S.O.S., a pinta do sujeito de espanador na mão e, principalmente, a pernuda de polainas contorcida no carrinho garantem a diversão visual.


2-Stevie Wonder – “Signed, Sealed & Delivered” (1970)

“Foi aqui que pediram um gênio cego da música afroamericana?”. Projeto de Curtis McNair, autor de capas de outros clássicos da Motown, como “What’s Going On” de Marvin Gaye e “Psychedelic Shack”, dos Temptations.


1-The Who – “The Who Sell Out” (1967)

David Montgomery, o fotógrafo responsável por esta portada eterna, admitiu anos depois que estava morrendo de medo do que a combinação The Who + ensaio envolvendo comida poderia gerar. Em 1967, a reputação da banda era possivelmente a pior de toda a fauna rock. Para sua perplexidade, porém, os quatro mods se comportaram bem. Segundo Montgomery, o vocalista Roger Daltrey quase pegou pneumonia depois da sessão, de tanto que permaneceu pacientemente na fria megafeijoada na qual mergulhou. A enorme lata Heinz depois viraria mesa da casa do fotógrafo.
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