segunda-feira, 12 de julho de 2010

¡Viva España!



“Se aceptan pulpos como animales de compañía”. A piada em referência ao célebre polvo Paul, ser marinho que "previu" corretamente a vitória da Espanha na final da Copa ocorrida ontem, não veio de um programa humorístico de TV. Soou, para surpresa geral dos passageiros, do alto-falante do vagão do metrô em Barcelona, que na madrugada desta segunda-feira transportava milhares de pessoas festejando o título da Roja.

Lembrei de um conhecido meu que, igualmente ao mais de um milhão de pessoas que tomou as ruas de Barcelona numa manifestação realizada na véspera da partida (mala suerte danada esta coincidência...), é partidário da independência da Catalunha em relação à Espanha. Ele havia me dito que torceria contra a equipe de Xavi e Iniesta, mesmo o esquadrão titular campeão sendo formado pela dupla e nada menos que outros cinco jogadores a base seu time do coração, o Barça. Segundo sua teoria, uma vitória no Mundial da África do Sul desataria uma onda de espanyolisme (“espanholismo” em catalão) insuportável para os nacionalistas/independentistas.

E, se até o comedido serviço de informações do metrô barcelonês, sempre limitado a passar sóbrias informações em dois idiomas – catalan first, of course -, soltou a franga diante do belo futebol da Roja, é possível que inclusive meu conhecido a estas alturas tenha jogado seu radicalismo para o alto, abraçado o tal espanyolisme e se entregado a uma borrachera homérica. Afinal, questões regionais e políticas à parte, não vem de hoje o uso de ícones culturais espanhois pelo mundo afora. Inclusive no universo pop. As capas dos discos abaixo que o digam.


5-Madonna – “La Isla Bonita, Super Mix” (single, 1987)



Como disse neste post, “La Isla Bonita” se refere a San Pedro, ilhota em Belize, no Caribe. Ou seja, um lugar a milhares de quilômetros de distância da Espanha. Mas, no pastiche farofeiro de referências “latinas” ou “calientes” empregado por Madonna para promover o single, valeu não só se vestir de dançarina de flamenco no clipe, mas também recorrer ao que aparentemente é um chapéu de cavaleiro andaluz para a foto da capa.


4-Sidney Magal – “Magal” (1978)



Antes de “se vender” à lambada, Sidney Magal explorava uma imagem meio sem pé nem cabeça de cigano misturado com latin lover. A temática foi inclusive explorada na inesquecível “Sandra Rosa Madalena, ‘a cigana’”, canção deste álbum. Para completar, ele posou de bailaor de flamenco, o ritmo cigano-espanhol por excelência.


3-Tears For Fears – “Raoul and the Kings of Spain” (1995)



Quando a vaca, ou melhor, o toro já tinha ido para o brejo, e o Tears for Fears já não conseguia mais fazer sucesso, Roland Orzabal apelou. De ascendência espanhola (Orzabal é um sobrenome do País Basco, a região espanhola onde os movimentos separatistas são ainda mais fortes que a Catalunha), ele ignorou a debandada da outra metade da dupla, Curt Smith, e foi buscar inspiração em seus antepassados para nomear o disco e algumas músicas e para escolher a foto da capa. Que, flagrando uma das delirantes corridas de touros de Pamplona, não ficou nada mal.


2-Chick Corea - “My Spanish Heart” (1976)



Outro que sempre gostou de prestar tributo a seu sangue espanhol em sua carreira é o jazzista americano Chick Corea. Ele poderia ter parado em temas como o aflamencado “La Fiesta”, um dos grandes momentos da história do jazz fusion. Mas foi além, se fantasiando de toureiro para a portada desta bolacha. E para quem gosta de coincidências nonsense, o nome original de Chick, um nome espanhol, é Armando Corea. O pianista é, portanto, quase homônimo a Armando Corrêa, candidato que liberou sua vaga eleitoral para que Silvio Santos lançasse sua falida candidatura à presidência em 1989. Nada a ver a com nada, mas curioso.


1-Pixies – “Surfer Rosa” (1988)



Se a banda bostoniana canta em espanhol em pelo menos duas músicas, “Vamos” e “Isla de Encanta” (trilha sonora da propaganda da Visa para a Copa, a do gordinho que corre até ficar magro e marcar o gol), e cita cinema espanhol de vanguarda em “Debaser” (sobre “Um Chien Andalou”, filme de Buñuel e Dalí), a utilização de uma fictícia bailarina de flamenco com seios perfeitos na capa de seu primeiro LP não poderia ser mais coerente. E o resultado, belo.

Um comentário:

  1. Daniel,
    legal essa história, que lembra um pouco a redação do Pasquim em 1970 que combinou de torcer contra a seleção do Brasil na copa do México.
    Não resistiram nem 5 minutos. Bastou o Pelé pegar na bola.
    Aqui, acho, os catalães não deram o braço a torcer e torceram dentro do armário.
    Abraço.

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