segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Play that funk-metal music, white boy





Esta teoria segundo a qual sempre reverenciamos a cultura pop de duas décadas atrás é simplória e não tem embasamento científico. Mas costuma funcionar, e digo por experiência própria: dancei twist nos anos 80, curti um funk nos 90 e voltei a escutar Devo nos 00. Por isso já passa da hora de fazermos nossas apostas de quais aspectos da década retrasada voltarão a assombrar as produções pop destes próximos 3600 e tantos dias. E, no meio de favoritos como trip-hop, grunge e britpop – que sim, devem voltar com tudo reembalados – eu arrisco palpitar que haverá espaço para uma nova versão do chamado funk-metal. Sim senhor, o subgênero roqueiro que fez muito sucesso mais ou menos entre 1988 e 1994 e que apresentou a moleques de 13 ou 14 anos - como eu - o poder que os graves de um baixo exercem sobre um corpo adolescente.


Quando digo “chamado funk-metal” remeto à imprecisão do termo, já que as bandas classificadas como tal podiam ser abismalmente diferentes entre si (o que Ice-T tem a ver com Mike Patton, por exemplo?). Mas a alcunha “funk-metal” acabou por unificar um tipo de abordagem musical que, à parte das múltiplas referências que cada grupo pudesse adotar, estava sempre presente: o encontro entre o peso roqueiro com o molejo do funk. Algo cujas raízes podiam ser encontradas já nos anos 60 em discos da Stax ou de Jimi Hendrix, ou na parafernália armada por George Clinton na década seguinte, mas nos anos 80 a mesma mistura se renovou sob a forte influência de metal, punk e rap ( foram fundamentais as parcerias Aerosmith + Run DMC e Anthrax + Public Enemy). Curiosamente, a maioria esmagadora dos grupos vinha da Califórnia – sete desta lista são de lá -, eram bons de palco, seus frontmen agiam como insanos, seus baixistas se amarravam num slap, todos usavam bermudas e seu público pogava suado e sem camiseta. Alguns faziam o tipo machão ou apostavam no nonsense lírico, enquanto outros, no desenrolar de suas carreiras, viriam a desenvolver tendências glam ou se enveredar por causas politicamente corretas.


O auge funkeiro-metaleiro (ou como você queira chamar) viu a proliferação de pencas de bandas que ficaram pelo caminho (24-7 Spiz, Heads Up, Scatterbrain), repercutiu no Brasil (Yo-Ho Delic, Planet Hemp, Boi Mamão, De Falla, Charlie Brown Jr….), mas a onda durou pouco. Teria tudo ido por água abaixo quando o Body Count aceitou substituir “fucking nigger” por “black boy” em “There Goes the Neighbourhood”, sob censura da MTV Americana? Ou quando o Red Hot gravou sua primeira balada? Quem sabe a transformação do Rage Against the Machine no manso Audioslave… ou o surgimento do filho bastardo destas bandas, o horripilante nu-metal? É difícil saber. De todas as maneiras, quem ficou para contar história está no top 10 abaixo, o de melhores nomes do tal funk-metal segundo o Mala da Lista. Lembro que lá atrás, com meus acnes e cabelo comprido, almejava ver todos eles ao vivo. Até hoje deu para realizar 60% do sonho, vamos ver se este revival se concretiza mesmo e a quota aumenta.


10-Primus


O baixista virtuoso Les Claypool e os golpes secos da caixa de Tim “Herb” Alexander não poderiam ser mais típicos do período. Mas pára por aí. O Primus se distinguia mesmo por enfiar em sua fórmula um humor sem pé nem cabeça, ritmos tortos, guitarras neuróticas a la Robert Fripp e divertidos arranjos com banjos. Para alguns, era muita técnica e palhaçada, mas pouco conteúdo. Pode ser. Mas de “Tommy The Cat”, com canja de Tom Waits, é difícil não gostar.






9-Body Count


Ninguém fala “mother fucker” como Ice-T. E poucas coisas eram mais engraçadas e empolgantes para quem tinha 14 anos no começo da década de 90 do que ouvir palavrões sendo falados com tanta vontade sobre riffs tão “pedrada”. Como os clipes do Body Count veiculados pela MTV eram exibidos sem os xingamentos, posto aqui, em sinal de protesto, esta versão caseira produzida por uns moleques aí. Bem divertida, aliás.






8-Infectious Grooves


A banda mais à esquerda (e projeto paralelo) do Suicidal Tendencies. Em algum manual de funk-metal que ainda está por ser escrito, usarão o arranjo desta música como guia para o estilo: uma guitarra é suja e alta, a outra funky e melódica, a bateria é enérgica e o baixo demolidor. Fãs de Metallica reconhecerão o baixista Robert Trujillo.





7-Urban Dance Squad


De Amsterdã, era uma das representantes mais hip-hopeiras da safra. Ao mesmo tempo, foi uma das que melhor experimentou com produção em estúdio. Os dois primeiros discos, “Mental Floss for the Globe” (1989) e “Life’n Perspectives of a Genuine Crossover” (1991) são excelentes e ainda soam modernos. Atenção para as canjas de Mike Muir (do Infectious Grooves aí acima), Flea, Ice-T e Henry Rollins no clipe.






6-Living Colour


A potência ridícula desta banda novaiorquina nos faz até esquecer das inexplicáveis roupas de ginástica que seus integrantes usavam durante os primeiros anos. Aqui em um de seus melhores momentos, o hino anti-racista “Funny Vibe”, com participação do Public Enemy.






5-Rage Against the Machine


Zack de la Rocha que me desculpe, mas ninguém nunca ligou realmente para suas letras politizadas. Quem consegue se concentrar nos zapatistas ou em ativistas presos quando soam nas caixas grooves tão colossais com vocais tão bem… cuspidos? Quem precisa de discursos em meio a riffs tão certeiros, tocados com essa pegada tão absurda?






4-Fishbone


Não foi tarefa fácil, mas segurei Angelo Moore, o comandante do Fishbone há mais de trinta anos, em um de seus stage divings em show de 2006 em Barcelona . De todos os frontmen aqui relacionados, Moore é sem dúvida o mais indomável. E sua banda, a mais versátil, associada tanto à nova onda ska da 2 Tone quanto ao eletrofunk de Prince ou ao hardcore.






3-Faith No More


No final a gente até esquece que o Faith No More integrou o “clube” um dia, tamanhas as mudanças em seu som e a variedade dos projetos encabeçados por Mike Patton. Mas, até o essencial “Angel Dust” (1992) eles eram os filhos prodígios do flerte entre o baixo slap e a guitarra com overdrive. Os teclados de Roddy Bottum davam o molho pop que tanto marcou a banda no começo.






2-Beastie Boys


Eles eram do hardcore, depois foram rap-rockers desmiolados, depois só rappers inovadores. Aí vieram “Check Your Head” (1992) e “Ill Communication” (1994) para misturar tudo o que MCA, AD Rock e Mike D já sabiam. E ainda hoje está difícil de superar.






1-Red Hot Chili Peppers


Esqueça o solo de bateria de Chad Smith. Você precisará do menos de um minuto que lhe antecede para entender a essência disso que chamavam de funk-metal, e que neste caso devia tanto a Gang of Four quanto a George Clinton. E se precisássemos escolher uma figura para definí-lo, esta figura seria Flea. Observe sua dança, você não ousará discordar. O Chili Peppers ainda é mortal ao vivo, mas seu período até “Blood Sugar Sex Magik” (1991) é digno de sua inclusão no hall das grandes de todos os tempos.


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