sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Barba, cabelo, plumas e paetês


Laerte (Foto de Augusto Gomes - Ig)

É hora de falar do verdadeiro assunto da semana. Eleições? Mas é claro que não. Me refiro à nova fase do Laerte, que agora só se veste de mulher.

O cartunista é um crossdresser, termo que, confesso, não conhecia. Não é travesti ou transexual. Nem necessariamente homossexual (Laerte, por exemplo, tem namorada). Os crossdressers, como o genial autor de “Piratas do Tietê”, aderem a hábitos estéticos femininos – aí incluem-se idas à depilação e manicure – por motivos que vão da performance artística à, em seu caso, investigação antropológica. Laerte diz que quis colocar-se na pele de uma mulher para conhecer mais a fundo nuances (e preços!) da vaidade estética feminina. Foi muito é macho, e o resultado de seu experimento é, ao mesmo tempo, surpreendente, corajoso e hilariante. Ele agora é uma pacata senhora de 60 anos.

A reviravolta do guarda-roupa – para dizer o mínimo – de Laerte lembrou ao Mala da Lista que, no mundo da música, esse lance de homem se vestir de mulher é algo relativamente normal. E quis fazer um top 10 dos exemplos mais bombásticos exemplos, aí sim incluindo não apenas crossdressers como as vertentes mais à esquerda da modalidade, tais quais travestis e transexuais. Eles são pop, e como são...

Já explico antes que não é questão de meter todo mundo no mesmo saco. As listas deste blog têm critérios, e o critério aqui é o elemento “popstar homem vestido de mulher”. Divergem quanto a serem crossdressers esporádicos, travestis ou transexuais. Em comum, têm o impacto que causam pela opção estética.

*Menção honrosa para todos os astros ligados ou influenciados pelo glam rock (de Bowie a Brian Molko, de Ney Matogrosso a Boy George). Não dá para dizer que se vestem ou vestiam de mulher. Nem de homem. É um meio termo, taí a magia da coisa.


10-Kim Petras
Descrita como “a mais jovem transexual do mundo” por ter trocado de sexo aos 16 anos (há controvérsias: outro dia vi na TV espanhola um pré-adolescente que passaria pela cirurgia), a alemã Kim (ex-Tim) Petras, conseguiu alavancar sua carreira de cantora teen pelos tablóides. Entre as notícias que nutriram o burburinho, a de que já fazia tratamento hormonal desde os 12 anos (agora ela tem 18).




9-Marilyn Manson
Ele teve sua fase travesti (na verdade um travesti alienígena) no disco “Mechanical Animals”, de 1998, em que usou seios postiços para encarnar o alter-ego Omega.




8-RuPaul
A gigantesca drag queen americana já nasceu com pseudônimo artístico (RuPaul Andre Charles é seu nome de batismo) e migrou dos cabarés para a TV e a música. Lançou cinco discos de poperó grudento entre 1993 e 2006 e brilhou ao lado de Elton John, lhe aplicando broncas e abraços de urso no clipe desta releitura farofenta de “Don’t Go Breaking My Heart”, antigo sucesso do baixinho:




7-Pete Burns (Dead or Alive)
Em 1985, quando o Dead or Alive estourou mundialmente com o hit “You Spin me Round”, Pete Burns era apenas um vocalista ultra-afeminado como tantos outros. Nada que o diferenciasse especialmente de Boy George ou do grupo Army of Lovers, que surgiu um pouco depois (aquele do bigodudo ruivo e da do sujeito com pinta de cigano de peito cabeludo). Mas passado o desbunde daqueles dias, Burns pagou micos em reality shows, chafurdou na decadência e montou e desmontou novas versões do grupo, a cada aparição ressurgindo mais transformado fisicamente. Neste mini documentário recente, dá para ver que a quantidade atual de botox em sua boca daria para saciar três Martas Suplicys, ou duas Nicoles Kidmans e meia. (O assunto na verdade é sério: o vídeo mostra o episódio em que Burns teve uma tenebrosa overdose de encherto bucal).




6-Rogéria
Astolfo Barroso Pinto, nacionalmente conhecido como a transformista Rogéria, tem 67 anos e mais de 50 dedicados ao cinema e à televisão. E também solta o vozeirão, como podemos ver a partir dos 40 segundos deste vídeo extraído da peça “Seven o Musical”. Não dá para esquecer a primeira aparição de Rogéria em nossas vidas. A minha primeira foi numa novela da Globo cujo nome não me lembro. Em uma cena, o personagem dela se irritava e berrava: “porra, meu nome é Valdemar!”.
 


5-Nomi (Hercules and Love Affair)
Foi o andrógino Antony Hegarty (Antony and the Johnsons) que, com suas colaborações vocais no disco homônimo de estreia desta banda, deu-lhe a forcinha extra necessária para o sucesso no meio indie eletrônico. A principal voz herculeana é da exuberante transexual Nomi, que antes já tinha no currículo um disco solo e também turnês ao lado do próprio Anthony. Admito que quando eu vi o bom show do grupo, no Sónar 2008, falei: “que mulherão!”.




4-Roberta Close
Essa foi guerreira. Em pleno Brasil recém-saído da ditadura, fez operação para trocar o sexo e começou uma disputa para que pudesse mudar de gênero e nome (de Luiz Roberto para Roberta), algo que conseguiu mais mais de dez anos depois. De quebra ainda gravou pérolas para pista como esta, “Sou Assim”. Atenção para o recado final: “eu sou a gatinha, eu sou a gata, miau para todos”.




3-New York Dolls
Os primeiros crossdressers da música pop não queriam apenas saber de garotas, doses cavalares de heroína e (auto) destruição. Também estavam ligadíssimos em sapatos-plataforma, saias, maquiagem. O marketing de um grupo com caras tão podres e que ainda por cima se vestiam de mulher não podia dar em outra. A maneira de ser “macho” e ao mesmo tempo aparecer com roupas femininas influenciaria toda a geração do metal farofa oitenteiro (Poison, Wasp...), resvalando também para nomes mais respeitados como Aerosmith e Guns n’Roses.




2-Jayne County

Quando ainda atendia por Wayne County e atuava em filmes de Andy Warhol, no começo dos anos 1970, Jayne já barbarizava não só por entrar em cena travestida, mas por cuspir sangue de galinha na plateia, fosse ela underground ou não. Ainda na ativa, a transexual é considerada, juntamente com os Dolls, uma das precursoras perdidas do punk americano, pela atitude, o som cru e claro, o visual. Teve o careta - é, talvez nem tanto - The Police como banda de apoio no começo da carreira.




1-Wendy Carlos


Todo um clássico. Esta senhora septuagenária aí da foto (aqui o link para uma entrevista com ela)ainda se chamava Walter Carlos quando assinou a inesquecível trilha sonora de “A Clockwork Orange”, de Stanley Kubrick, em 1972. Logo em seguida trocou de sexo e o nome, mas não alterou em nada sua peculiaridade musical, a de converter obras eruditas – Beethoven e Rossini, entre outros - em futurísticas peças executadas no sintetizador Moog. Lembro desta célebre transgender de terceira idade toda vez que vejo o travesti veterano morador do meu bairro, o gloriosamente diversificado Poble Sec.

3 comentários:

  1. Só existem duas coisas mais legais do que esse post. E essas coisas estão dentro do próprio post:
    a música do Wayne County, que simplesmente é matadora e mais foda que Pistols. E, claro, a dancinha do próprio Wayne com braços levantados e pulinhos para frente no segundo 0:27. Parabéns, Mala da Lista! DO CARALHO! ;) hahahaha

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  2. mala, já pode lançar um livro!
    seu blog tá demais.
    bjs
    bel

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  3. Está escrevendo melhor que o pai, hahaha!
    Parabéns, gostei muito, adicionei aos meus favoritos.
    Abçs
    José Américo

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