quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Quem precisa de dentes bonitos?




Quando eu for para o Brasil, no fim do mês que vem, passarei pelo dentista. É algo que não faço há tempos, de tão pavorosos que são os relatos das pessoas que estiveram em cadeiras odontológicas espanholas. Aqui é normal uma pessoa voltar de um consultório com um dente a menos ao reclamar de uma simples cárie. Arranca-se dentes na Espanha do século 21 como se ainda estivéssemos na Guerra Civil de 70 anos atrás.

E não só: é socialmente aceitável um apresentador de TV com boca de Jeca Tatu, e até mesmo uma gata ou um boa-pinta saírem para balada com um dente da frente faltando. Ou seja, dentista, para os que desfrutam as políticas igualitárias mas mal-pagas do bem-estar espanhol, é luxo. Certa vez minha irmã Adriana , por exemplo, ouviu um estrondoso e irônico “óóóóóóóóóóó´!!!” quando comentou a um grupo de amigos, em sua maioria chefs e sommeliers fartamente remunerados da alta gastronomia ibérica, que iria cuidar da arcada dentária no dia seguinte. De forma que um Dia do Dentista, como celebra-se no Brasil na próxima segunda-feira, não faria muito sentido por aqui.

Daria para viajar em uma série de teorias para o desmadre dental geral desta nação, mas 100 % certo mesmo é a contribuição para isso do tal do desprendimento estético europeu, onde (ainda bem) ninguém liga – ou finge não ligar – para como o outro está vestido, se fede ou não, se não há nada faltando em sua boca. Deve ser por isso que 8 dos 10 integrantes desta lista são europeus. Mas lista de quê? Ora, nem precisa falar: dos piores dentes da música pop.

*Menção honrosa para Elvis Costello e Flea, com dentes frontais separadíssimos, mas que em seus casos acabou rendendo-lhes um charme extra.



10-Goldie




Muitos músicos, especialmente rappers, enchem a boca de ouro para demonstrar algum status. No caso do pioneiro do drum and bass Goldie, a tentativa de fazer moral com a rapaziada se misturou a uma dentição naturalmente problemática da maneira mais espalhafatosa, numa confusa combinação de placas bacterianas, tártaro e pedras de alguns quilates. Deu certo, afinal “Ourinho” já pegou muita gente, de Naomi Campbell a Björk.


9-Johnny Rotten (Sex Pistols)



 O codinome Rotten (“podre”) veio justamente do estado em que se encontrava a dentição de John Lydon no começo de sua carreira. Desde o estouro dos Pistols em 1976 até hoje em dia, não faltaram dinheiro ou oportunidades para dar um trato, mas Johnny sacou que um sorriso Cepacol em seu caso perderia bastante a graça.


8-Amy Winehouse


Amy segue o mesmo estilo de Rotten. Mas ela o supera no ranking, porque de um cidadão conhecido como Joãozinho Podre que toca na mais controversa banda punk inglesa até se admite a janela. De uma neo-diva soul que um dia foi estilosa e até mesmo gostosa, não.


7-Justin Sullivan (New Model Army)




A coisa começa a esquentar. Afinal o buraco é mais embaixo quando o... er.... buraco é mais no meio.


6-Paul McCartney




Sim, foi temporário, mas Paul MacCartney esteve com o dente frontal esquerdo quebrado, por causa de um acidente de motoca, quando os Beatles ainda estavam no auge (1965-1966). E mais, consta que permaneceu assim pelo menos por seis meses, período que inclui a gravação do clipe da música “Rain” (foto). Para analisarmos o tamanho do descuido, seria como se hoje em dia somássemos as maiores bandas pop, vamos dizer U2 e Coldplay, tendo como vocalista uma mistura de Beyoncé e Lady Gaga. Pois imagine o impacto deste suprergrupo multiplicado por três, e em seguida visualize um de seus principais integrantes sendo banguela. Nem o Google aguentaria tanta repercussão.


5-Chet Baker


Ah, as noites em claro. Ah, as mulheres. Ah, as doses de heroína sem fim.
Ah, como a conta saiu cara para os excessos de Chet Baker. Entre as despesas mais pesadas, os anos na prisão, a aparência de 100 anos de idade quando tinha 50 e a perda dos dentes da frente numa surra.


4-Richie Havens


Na mesma linha de Baker vai o herói do folk negro Richie Havens, que fez o show inaugural de Woodstock segurando a bronca de 400 mil hippies apenas com voz, violão e nenhum dente superior sequer. Meu amigo Cláudio Versiani, grande fotógrafo e jornalista, tem em sua parede um retrato ao lado de Richie em um show mais recente nos EUA. Nela, o cantor já aparece com sua prótese (dentadura?) adquirida no final dos anos 1970.


3-Jerry Dammers (The Specials)




Mais chocante do que não exibir nada em cima é passar a vida toda com uma janelona tripla dessas. Já era marca registrada do tecladista dos Specials quando eles inventaram o ska-rock há mais de 30 anos, e continua sendo agora, quando a banda voltou aos palcos e ele se recusou a participar.


2-Shaun Ryder (Happy Mondays)


Shaun era assim...
No primeiro dos dois shows que vi da volta dos Happy Mondays aqui em Barcelona, em julho de 2006, Shaun Ryder estava prestes a fazer sua primeira visita ao dentista em duas décadas. Aos 44 anos de idade, boa parte deles dedicada a extravagâncias comparáveis à do banguela Chet Baker, ele finalmente gastaria mais de 10 mil libras para trocar ou recuperar cada mísero dente. O cirurgião que trabalhou por seis horas em sua bocarra não ocultou a verdade: “Shaun’s teeth were as bad as you can get”.


...e ficou assim


1-Shane MacGowan (The Pogues)




Volto ao começo do post em estado de alerta: todos os 8 europeus do ranking são ingleses ou ingleses por adoção (Jerry Dammers nasceu na Índia). E destes, seis cresceram num período bastante decadente da Inglaterra, a segunda metade da década de setenta e primeira da de 1980. O que nos leva à suposição de que, entre outras privações vividas pela nação de Margaret Tatcher, estavam a escassez de água fluoretada nas torneiras ou até mesmo de pasta de dente nos supermercados. Ou alguém imagina que Shane McGowan viu algum dia uma escova pela frente? Pelo menos até sua recente decisão de se auto-banguelar e aderir à dentadura, é difícil mesmo conceber.

Numa hilária reportagem da revista inglesa Mojo do começo deste ano, Shane infernizou a vida do jornalista, o enrolando infinitamente sobre a hora e o local da entrevista, que nunca saía. Acabaram combinando o encontro de madrugada num pub, onde o repórter já o encontrou bebaço. Não satisfeito, MacGowan ainda convenceu o pobre a acompanhá-lo a uma espécie de chalé no meio do nada, ao que arrastou, inapropriadamente, outro camarada ainda mais alcoolizado que insistia em dar pitacos na conversa. MacGowan chegou totalmente banguela ao casebre. Perguntado sobre onde teria ido parar a dentadura do figura, o amigo do músico respondeu ao jornalista: “é bem possível que ele a tenha esquecido no bar”.

3 comentários:

  1. Querido Daniel,
    essa é a nota mais feia que vc já fez na vida. Cada um mais feio do que o outro. E olha que o outro já é feio demais!
    Assisti ao Richie Havens em NY, 1995, um show memorável. Depois em 2002, qdo morei em lá, eu o via na rua com razoável frequência. A filha ou filho, estudava numa escola de música perto da minha casa.
    Nunca mais importunei o homem, bastou tietar uma vez.
    Gracias pelo "grande", vc é que é um gde amigo.
    Ab.

    ResponderExcluir
  2. hahahahahaha demais! A idéia do post é demais! E a menção ao Flea e ao Costello também - assim como a Madona - e o meu pai - todos tem os charmosos dentinhos da frente separados.

    ResponderExcluir
  3. Ter dentes separados é uma coisa... ter os dentes podres, tortos ou faltantes, já é demais! Realmente, lá fora não dão valor a isso!

    Belo post ("belo" no sentido do texto e ideia, haha)

    []s

    ResponderExcluir

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.