terça-feira, 11 de maio de 2010

Não corto



Na semana passada ocorreu finalmente comigo o que eu vinha temendo nos quatro anos em que moro em Barcelona: sair do barbeiro com um mullet não encomendado. Na Espanha, e muito especialmente na Catalunha, o inexplicável revival do mais execrável dos cortes de cabelo de nossa geração continua a todo vapor, e se você não entra no salão dando ordens expressas sobre evitar o temido hairdo, volta para casa literalmente no maior Xororó. Desesperado diante do primeiro espelho de carro com que topei na saída, corri de volta à cadeira e supliquei pela correção do erro.

O final foi feliz, mas não pude deixar de lembrar de outros capítulos da série “momentos marcantes de barbeiros e cabeleireiras em minha vida”. Sobretudo aqueles envolvendo o “ser cabeludo”: o quanto tardei para decidir tosar a cabeleira de pré-roqueiro aos 13 anos; e o quão bizarro foi raspar a juba – esta sim, volumosa e comprida - que cultivei entre os 14 e 17, para em seguida vendê-la por 60 reais a Mirta, uma cabeleireira da Rua Augusta. Lembro como se fosse hoje. Eu, incredulamente calvo, admirando a foto que Mirta tinha com Cauby Peixoto na parede.

A peculiar nostalgia ativou os arquivos do departamento de associações sonoras do Mala da Lista. E o blog homenageia aqui os bravos sobreviventes das eternas brigas enfrentadas diariamente com pais, professores e chefes, sempre ávidos em escalpelar a alegria alheia. 5 grandes canções sobre cortar ou não o cabelo. E um brinde aos que não vão cortar nunca: os Metaleiros e o Dudu Tsuda.



5-Crosby, Stills, Nash & Young - “Almost Cut My Hair” (1970)

Vietnã, drogas, policiais, bad trips. Por pelo menos um momento, David Crosby achou que não seguraria a barra e quase cortou o cabelo. Quase. Quando ele voltou a se encontrar com Stephen Stills, Graham Nash e Neil Young em meados da década passada, os fios (de todos) eram brancos, mas ainda tão longos quanto em 1970.






4-Pretenders - “Don’t Cut Your Hair” (2008)

Quase duas décadas sem disco para voltar pedindo à tchurma que não corte o cabelo. Chrissie Hynde pelo menos fez sua parte, mantendo o estilo “pica-pau” que tanto fez escola em roqueiras pós-Pretenders.






3-Nipônicos Anônimos – “Cabelereira do Zezé” (2009)

As boas marchinhas quase sempre são politicamente incorretas. É o caso desta, que mesmo dando margem à interpretação homofóbica, é genial. E as boas marchinhas têm também o mesmo impacto cru e veloz de uma canção dos Ramones. Dá para notar isso quando despimos a composição dos anos 1960, creditada a Roberto Faissal e João Roberto Kelly, a um arranjo (involuntariamente) minimalista deste grupo de nipo-brasileiros anônimos. É grito de guerra, parte 1, parte 2 e ponto final.






2-Pavement – “Cut Your Hair” (1994)

“Did you see the drummer’s hair?”. Eram os intelectuais do Pavement brincando com as mazelas da imagem no mundo pop. Para isso, até um gorila aparando o couro cabeludo entrou na dança.






1-Oswaldo Nunes – “Deixa o Meu Cabelo em Paz” (1969)

O título da música já seria a melhor mensagem anti-escalpo. Mas não fica só por isso: “Sou jovem avançado, estou na onda, o que é que há”. E ainda é um samba-rock para lá de grudento. Escute aqui ou divirta-se com o português bebaço cantarolando este clássico na rua.








4 comentários:

  1. Eu lembro dessa fase cabeluda de vocês e sempre fui contra! Prefiro mullets (e gosto! Eu tenho!) à cabelos grandes.

    Claro, há um limite para o tamanho do mullet e a proporção com dele em relação ao resto da cabeça. Mas um rabicó não faz mal a ninguém!

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  2. É, mas você não conhece os mullets daqui... sabe jogador de futebol argentino dos anos 80? Nessa pegada. Ou o nível master plus extra hiper glamuroso: o mullet dread. Vai nessa, Queridão! Hehehe, abraço

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  3. Mullet dread devia ser proibido por lei! Constituição Federeal

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