segunda-feira, 18 de julho de 2011

Nostalgia do cloro



Falta só uma coisa ao verão de Barcelona: piscinas.

Quase todo mundo por aqui mora em apartamento – em mais de cinco anos na cidade, só conheci duas casas – e os edifícios não possuem área externa, o que impossibilita qualquer dispositivo de lazer extra. Tal esquema contribui para que esta praga chamada condomínio não faça parte de nossa planilha de custos. Mas, por outro lado, aquela barrigada sem sal só rola se Maomé subir até a montanha, o que significa ter algum amigo ricaço na chamada Zona Alta (bairros como Pedralbes e Bonanova), ou escalar Montjüic, onde há pelo menos duas piscinas públicas. O “Monte Judeu”, como é conhecido este último, é meu vizinho, e eu não conheço nenhum milionário catalão, assim que tentarei a opção B para as próximas semanas.

Minha nostalgia pelo cloro acabou sendo o trampolim para um top 10 com capas de álbuns feitas em piscinas. Também inspirou este post um dos grandes heróis deste blog, Nick Hornby, que já dedicou um texto inteiro à irritação que sente quando pessoas entram n’água e começam a nadar borboleta por livre e espontânea vontade. O cara é gênio. (Um dia desses escrevo minha versão, sobre os idiotas que dão virada olímpica sem que ninguém tenha pedido.)

*Só entraram as piscinas “povoadas”. As vazias ficam para o fim do verão

**“Nevermind” do Nirvana e outras capas exploradas em posts como as melhores capas com  Bebês ou Dinheiro também não valem mais.



10-Oasis – “Be Here Now” (1997)

Eis o uso que um rockstar pode dar à sua piscina. Uma referência direta aos excessos de um ídolo da banda, Keith Moon, baterista do The Who, que em certa ocasião estacionou seu Rolls-Royce não exatamente na garagem de sua casa.



9-Blur – “Leisure” (1991)

Se há um Oasis na lista, há de se encontrar lugar para um Blur. Brincadeira, esta deixou algumas de fora na hora da seleção final pelo estilo da mocinha.



8-Mind Spiders – “Mind Spiders” (2011)

É preciso avisar as caveiras de que há óculos mais apropriados para a prática de natação.



7-The Boomtown Rats – “The Art of Surfacing” (1979)

Do disco que inclui o hit “I Don’t Like Mondays”. Bob Geldof deve ter composto a música após uma aula de natação às 7 da manhã de uma segunda-feira, no inverno inglês.



6-Def Leppard – “High ’N’ Dry” (1981)

Eita jeito de rachar o crânio...



5-Trickster – “Back to Zero” (1979)

Poderia uma capa ser mais gay? Garimpado do livro “1000 Record Covers”, de Michael Ochs.



4-Prince & The Revolution – “Around the World in a Day” (1985)


À primeira vista, quase não dá para ver que esta peculiar festa - entre cujos convidados se destacam o médico nonsense do canto direito e a mistura de Robert Smith com Edward Mãos-de-Tesoura – está ocorrendo ao redor de uma piscina. Mas abrindo o encarte, vem a revelação:


3-Siouxsie & the Banshees – “The Scream” (1978)


Certos álbuns soam como suas capas, por mais abstrato que isso possa parecer. O trabalho de estreia da banda precursora do punk gótico é incômodo e estranho tal qual a expressão da garota submersa do meio.


2-The Motels “The Motels” (1979)


Já outros trazem um certo contraste entre o som e parte gráfica. “The Motels”, por exemplo, é bem mais previsível e até careta do que sua sensacional portada.



1-Robert Palmer – “Double Fun” (1978)

Por fim alguém nesta lista que deixou as propostas “arty” de lado e caiu de bomba n’água. Em companhia, tudo indica, de duas jovens. Que no momento deveriam estar praticando pernadas de nado sincronizado erótico acrobático.

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terça-feira, 5 de julho de 2011

Envelhecer

 
Ilustração: Mikl

Em 2010, o Mala da Lista celebrou seu primeiro ano de vida com um Top 5 canções sobre aniversários.

Para soprar a segunda velinha não valia repetir a mesma ideia, o que obrigou o blogueiro a pensar em outro ranking envolvendo a passagem do tempo: as melhores músicas sobre o medo de ou a rejeição a envelhecer.

E, sendo a música pop um fenômeno essencialmente jovem, isso sempre esteve na pauta de algumas ótimas canções. Foi também, por coincidência, a obsessão de Michael Jackson, o Peter Pan da música e centro das atenções do post inaugural deste blog.


5-Ramones – “I Don’t Wanna Grow Up” (1995)

Como a própria banda novaiorquina e seus fãs, o moleque que narra esta história está decidido a não crescer. Por causa de, entre outras pentelhações de adultos citadas na letra, pais que brigam e enchem a cara, o trabalho excessivo e até mesmo os cabelos que fatalmente caem um dia.


4-Alphaville – “Forever Young” (1984)

É interpretada de forma exageradamente dramática? É. Tem arranjo grandiloquente e bregão típico do período? Tem. Mas não importa. No fundo, trata-se de uma senhora balada deste grupo alemão (só soube agora!) de tecnopop, que ousava pedir a juventude infinita, e por que não, a vida eterna no refrão. Tão marcante para quem crescia nos anos 80 – lembro de minha irmã e as amigas chorando as pitangas dos primeiros foras ao som de “Forever Young” – que qualquer versão deveria ser proibida. Principalmente a cafonaça que Jay-Z gravou há dois anos. Divirtam-se com o clipe, farto em todos os sensacionalmente ridículos excessos dos anos 80.


3-Rolling Stones – “Mothers Little Helper” (1966)

As “pequenas ajudantes das mães” citadas na letra e no título eram as diferentes pílulas que muitas donas de casa dos anos 1960 acabavam tomando – de anti-depressivos a vai saber mais o quê - para aguentar suas vidas cinzentas e maridos sufocantes. No começo, no meio e no final da canção sobre as mamães trincadas soa o lamento “what a drag is getting old!” (algo como “que saco é envelhecer!”). Afinal, tomar bola para aguentar o tranco costuma ser um hábito de gente mais crescidinha.


2-Titãs – “Não Vou me Adaptar” (1985)

“Eu não caibo mais nas roupas que eu cabia/ Eu não encho mais a casa de alegria/ Os anos se passaram enquanto eu dormia”. Palavras sinceras e inseguras de Arnaldo Antunes, que de quebra ainda as encaixou em uma das melodias mais grudentas dos Titãs. Ainda um octeto e em plena forma, aqui eles protagonizam um memorável playback no pré-histórico “Globo de Ouro”.


1-The Who – “My Generation” (1965)

Na mesma medida em que Paul McCartney foi notícia ao completar 64 anos por causa de sua “When I’m Sixty Four” (ausente desta lista por não necessariamente reclamar da idade madura), Pete Townshend também rendeu manchetes quando passou dos 60. Teve que explicar novamente o verso mais famoso desta pedrada mod: “I hope I die before I get old” (“espero morrer antes de ficar velho”).

O vídeo repassa um dos grandes momentos da história do rock, experimentado por quem definitivamente não esperava chegar à sexta, ou até mesmo à quinta década de vida. No minuto 3’49’’ Townshend e o selvagem Keith Moon -morto aos 32 - começam a sua tradicional quebradeira de instrumentos; 35 segundos mais tarde, explode a segunda bomba posta secretamente por Moon em seus bumbos, o que deixa o guitarrista parcialmente surdo; e, antes do final, enquanto Moon rasteja pelo chão do estúdio, Townshend arranca o violão do apresentador e o destrói.

Eita geração aquela.




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