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Levon Helm (1940-2012) com The Band em 1970 (Foto: LA Times) |
"Os bateristas me pediam para que
lhes fizesse soar como Levon Helm, e eu respondia: 'para isso, você tem que
tocar como o Levon Helm'", me disse em entrevista de 2008 o produtor
americano Joe Boyd (Pink Floyd, Nick Drake, R.E.M.).
Falecido na quinta-feira passada em Nova
York, aos 71 anos, em decorrência de um câncer na garganta, o multi-intrumentista
e vocalista nascido no Arkansas foi, além da espinha dorsal de The Band e sonho
de consumo de colegas dos tambores, o baterista-cantor definitivo. Tão definitivo
que me inspirou a soltar uma lista que já estava praticamente pronta há tempos:
a dos melhores singing drummers.
Aqueles que extrapolam os limites
convencionais da coordenação motora, mantendo em grande estilo um olho no peixe
e outro no gato. Ou, no caso, um olho no peixe e outro no prato. Sou baterista
e me aventurei nisso em bandas da adolescência. Só que me via obrigado a
balbuciar qualquer coisa, porque pronunciar letras, segurar a melodia e mexer
pernas e braços em sincronia era demais para mim. Desisti.
Só valem, vejam bem, os conhecidos por tocar
simultaneamente à cantoria pelo menos em alguma fase da carreira, e não bateras
que simplesmente largaram as baquetas rumo ao microfone, tampouco artistas
“faz-tudo” frequentemente dados a bumbadas em estúdio (estes permanecem
engavetados para outros rankings).
A boa notícia é que nas próximas linhas há
uma honesta dose de música de primeira qualidade e algumas surpresas; a má é
que vocês já sabem quem ficou com o primeiro lugar.
10-Marylise
Frecheville (Vialka)
A mais técnica. E doentia, absolutamente doentia, como
o som do duo francês Vialka.
9-Robert Wyatt (Soft Machine)
O mais experimental... e azarado. Antes de cair da
janela em uma festa em 1973 e ficar paraplégico, o genial Robert barbarizava
com gogó e membros em meio à miscelânea sydbarretiana do Soft Machine. No meio
da qual enfiava seus inconfundíveis sussurros em falsete.
8-Karen
Carpenter (Carpenters)
A mais surpreendente. Afinal, nem todo mundo sabe que a
dona de uma das duas vozes irresistivelmente água-com-açúcar dos irmãos
Carpenters era também uma destas bateristas classicamente virtuosas, formada em
escola jazzística. E que não tinha problema algum em cantar enquanto rufava.
7-Grant Hart
(Hüsker Dü)
O mais objetivo. Algo que contribuía em muito para
fechar a sonoridade compacta e eficiente de uma das melhores bandas americanas
dos anos 1980. Compositor prolífico, Hart não abria mão de cantar
suas próprias canções, o que dava ao Hüsker Dü uma interessante dualidade
Lennon-McCartney - o outro criador, Bob Mould, tinha estilo bem diferente. Hart
assume o microfone no tempo 5’30” do vídeo, após constrangedora entrevista com
espécie de Hebe americana.
6-Phil
Collins (Genesis)
O caso mais careca, o mais zoado, o que provavelmente
mais sofreu bullying na escola – mas também um dos que melhor exerceram o
ofício percussivo-vocal. Reparem: o groove de “No Reply At All” é da pesada. A
música toda, na verdade, incluindo a melodia da voz.
5-Ringo Starr
(Beatles)
O mais clássico. Como não amar Ringo?
4-Georgia Hubley (Yo La Tengo)
A mais eficiente, para a proposta indie atmosférica do
fundamental trio. E a mais fofa – em um show aqui em Barcelona, uma garota da
plateia lhe pediu um abraço. Foi prontamente atendida. Canhota, como o careca
Phil Collins, e possuidora de um gogó embalador de bons sonhos.
3- Curumin
O mais malandro. Capaz de brincar de Stevie Wonder ao
cantarolar e manter o suíngue baterístico no mesmo nível, encaixando viradas
como se nada estivesse acontecendo e lançando melodias no MPC. Se jogarem uma
bola no palco, ainda desenrola uma embaixadinha de cabeça.
2-Buddy
Miles
O com mais pegada. E presença. E vozeirão. Jimi
Hendrix e Carlos Santana, que tiveram bandas com o finado colosso, ficavam
pianinho quando ele sentava no banquinho.
1-Levon
Helm (The Band)
O definitivo, repito. Como
vocalista, se tornou referência pelo timbre áspero e cheio de sentimento,
puxado em country e gospel; com as baquetas na mão, dosava à perfeição suíngue,
criatividade, pegada e economia de notas. Um ingrediente dominado por poucos de
seus colegas, diga-se. Manejando todos estes talentos ao mesmo tempo, era
imbatível.
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Muito bom o post, Mala da Lista. Não conhecia o duo francês. Que doideira! Tocar guitarra e cantar já é difícil - imagine batera, que mesmo sem cantar nada já é uma treta? ABS!!!
ResponderExcluirExcelente post! Faz muito tempo que curto The Band e fiquei triste quando soube da morte de Helm. Nunca imaginei que:
ResponderExcluira) Levon fosse tão famoso pela sua batida, da qual sempre gostei.
b) Levon tivesse admiradores no Brasil.
Grande perda...
Abraço!
Valeu, Ricardo. Pois eu conheço vários outros admiradores do velho Levon.
ResponderExcluirAbraço,
Mala da Lista