segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Antes que se queimem



“A proibição de fumar em locais de ócio fará com que fechem mais locais. Defenda a noite”. A mensagem em catalão do cartaz registrado pela dama Anita Cortizas nesta foto mostra o quanto uma parte dos espanhois está radiante, saltitante de alegria com o fecho de cerco da União Europeia aos fumantes. O bloco quer que até 2012 todos seus países tenham abolido o consumo de tabaco em locais fechados. Não sei se eu, um não fumante, ainda estarei vivendo em Barcelona para ver o milagre acontecer. Bem que poderia ser agora: com nosso pequeno André ainda completando três meses, temos que riscar uns 80% de botecos e restaurantes de nossa lista.


Os leitores brasileiros, especialmente os de São Paulo, perceberão que, no quesito antitabagismo, a Espanha está “roendo pedra nas cavernas”, como definiria Nelson Rodrigues. Por aqui todo mundo fuma como chaminé, não importa o tamanho do lugar. Os muitos estabelecimentos com terraço são uma opção, mas não raramente absolutamente todas as mesas ao redor estão ocupadas por fumantes tipo Geraldão, que parecem estar com três pitis na boca.


Na Espanha a previsão é de que, mesmo com a aguardada proibição, em locais com varandas ou espaços públicos não cobertos ainda será permitido fumar. Por mim tudo bem. Achei a lei de São Paulo um pouco radical com o veto aos tragos nos terraços que não sejam abertos. Seguindo assim, o próximo passo será promover a grande queima de qualquer referência a cigarros, de painéis publicitários a filmes hollywoodianos, passando pelas capas do disco.


Por isso, enquanto ainda não pega totalmente mal estampá-las com os próprios artistas fumando, vai aqui um top 10 com os melhores exemplares do gênero.


*Menção honrosa para “Soul Mining”, do The The, e “Whatever People Say I Am That's What I'm Not”, do Arctic Monkeys. Impactantes demais, mas protagonizadas por coadjuvantes fumando.



10-Thelonious Monk – “The Man I Love” (1971)


Já vou avisando que esta será uma lista com forte presença de jazzistas lendários dos anos 1940 e 1950, o supra-sumo do cool estético envolvendo cigarros, juntamente com os filmes do mesmo período. Então nada melhor do que começar com Monk.



9-Leonard Cohen – “Live Songs” (1973)



Por falar em cool, poucos podem sê-lo mais do que o senhor Cohen. Ou podem?



8-David Bowie – “Young Americans” (1975)



O Bowie dos anos 1970 foi tão, mas tão positivamente prolífico – sua série de discos naquela década, como a de Stevie Wonder, é de uma fartura comparável a Beatles – que o cara arrumava tempo para criar uma “fase entre fases”. Ou seja, entre os míticos períodos de androginia glam (mais ou menos 1972-1974) e o genial futurismo de vanguarda (1976-1980), ele arrumou tempo para tentar bancar um soulman inglês e branco com este álbum. E ainda conseguiu dar uma pausa para um “careta”.


7-Gal Costa – “Lua de Mel como o Diabo Gosta” (1987)



Como vimos no post Barcelona Muitos Graus – Parte II, houve um tempo que Gal Costa mandava bem nas capas. Eis outro exemplo.



6-Grace Jones – “Nightclubbing” (1981)



 O brilho da pele, o cabelo, o corpo e o olhar de Grace Jones sempre chocaram. A ponto de que uma foto como esta me faça pensar na possibilidade de terem utilizado um boneco no lugar da ex-modelo. E que, no canto da boca, tenham feito um buraco para encaixar o cigarrão.


5-Frank Sinatra – “In The Wee Small Hours” (1955)


Consultado frequentemente por este blogueiro, o recomendadíssimo livro “1001 Discos Para Ouvir Antes de Morrer”, lançado no Brasil pela GMT, tem seu marco zero neste disco. O editor Robert Dimery considerou que a bolacha foi pioneira no uso do espaço de um álbum para a realização de um trabalho conceitual de artista. Ou seja, o álbum passava a não ser mais necessariamente um acumulado de singles, um mero “greatest hits”. Como que antevendo o momento histórico, o Blue Eyes posou segurando o fiel companheiro com a maior classe que seus dedos puderam oferecer.


4-Billy Strayhorn - “The Peaceful Side of Jazz” (1961)


Também visitado muitas vezes pelo Mala da Lista, o blog LP Cover Lover garimpa a fundo (às vezes até demais) em busca de capas interessantes. Foi lá que me deparei com esta peça criada por um dos segredos mais bem guardados do jazz – Strayhorn era o braço direito do maior compositor do gênero, Duke Ellington.


3- Dexter Gordon – “Dexter Blows Hot and Cool” (1955)



Haja estilo. Não bastando ser um dos mais elegantes músicos que já sopraram um sax tenor em todos os tempos, Dexter conseguia fazer de seus cigarros um objeto de fetiche de dar inveja até a não fumantes. Há pelo menos três capas “esfumaçadas” em sua discografia, e está é a melhor.



2-Antônio Carlos Jobim – “Stone Flower” (1970)



Os americanos souberam trabalhar a imagem de Tom Jobim na hora de produzir seus discos para seu mercado interno. Assim, uma tragada com estilo só serviu para reforçar a fama do maestro bon vivant carioca e galã.


1-Lester Young, Roy Eldridge and Harry Edison – “Laughin’ to Keep From Cryin’” (1958)



"Duele de tan cool", diriam os espanhois. Pois Lester Young era tão, mas tão cool, que para interpretar um personagem parcialmente inspirado nele no filme “Round Midnight” (1986), chamaram ninguém menos que o Dexter Gordon aí acima. De quebra, Young (o que na foto porta o cigarro, é claro), era o melhor amigo de Billie Holiday e ídolo de escritores beat como Jack Kerouac.


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