10-“Papa Essa Brasil”, de Michael Sullivan e Paulo Massadas (Copa 1990)
Apagado como a seleção que Lazaroni levou para o mundial daquele ano, na Itália – eu nunca sequer ouvira falar de que três zagueiros pudessem jogar juntos -, este jingle acabou ficando em minha memória por causa da expectativa que tinha de minha segunda Copa “consciente”. Ou seja, absorvi tudo o que tinha a ver com o torneio, inclusive a canção cujo arranjo incluía uma grotesca tarantella. Por essas e por outras merecemos a eliminação pela Argentina. Como troféu de consolação, o vídeo traz imagens boas, com golaços contra os hermanos na Copa América 1989. E a pergunta que não quer calar: por onde andarão Michael Sullivan e Paulo Massadas?
9-“O Mundo é Verde-Amarelo”, de Roberto Nascimento (Copa 1986)
Como não foi o tema principal daquele mundial, confesso que lembrava mais do vídeo. Que é todo um clássico, aliás, e ilustra muito bem a ditadura do samba e do pagode que é a Seleção Brasileira. Lá está Júnior, um puxador nato, e outros com razoável familiaridade com o ziriguidum, como Zico. Mas e os que não tinham nenhum samba do pé? Carlos, Falcão, Leão tiveram que entrar na dança igualmente, todos durões, e chegar até o final, com uma valsa-paródia em portunhol. Outro elemento precioso é a presença dos meias Dirceu, Toninho Cerezo, que logo depois seriam cortados, e o lateral-direito Leandro, que amarelaria pouco antes do embarque.
8-“É Uma Partida de Futebol”, de Samuel Rosa e Nando Reis (Copa 1998)
Não está entre minhas canções favoritas do Skank, mas cumpriu bem o papel de servir como tema da fatídica Copa de 1998, sobretudo internacionalmente. Samuel e Nando se deram bem, afinal a canção já tinha dois anos de idade e fora hit no Brasil antes de render esses gordos royalties a mais. O vídeo que encontrei não tem a ver com o mundial, mas é bacana por visitar os bastidores de um clássico entre Atlético Mineiro e Cruzeiro, os times dos integrantes da banda.
7-“Paris”, de Alberto Ribeiro e Alcy Pires Vermelho (Copa 1938)
Não me lembro agora se Rider ou Havaiana. Mas alguma marca de chinelos usou uma releitura desta marchinha, originalmente composta para a Copa de 1938 na França, quando o campeonato retornou ao país, sessenta anos depois. “Tens louras mas não tens morena” e “Paris Jê t’aime, mas eu gosto muito mais do Leme” são alguns dos versos. Confiram aqui a gravação da época, com ninguém menos que Carmen Miranda, ou o vídeo desta boa versão de Pedro Luís.
6-“Salve a Nossa Bandeira”, de Lamartine Babo (Copa 1950)
Eu e meu amigo Felipe Schermann passamos a infância, a adolescência e boa parte do que já temos de vida adulta (?) lembrando trechos da fita sobre Copas do Mundo que vinha de brinde a quem comprava videocassetes Philco em 1982. Naquele ano, o aparelho adquirido por nossos pais era o equivalente ao iPad em termos de avanço tecnológico, e Luciano do Valle, o apresentador do especial referido, ainda era magro, não tinha cabelos brancos e trabalhava para a Globo. E um dos trechos que nos deixou sequelas para sempre é a musiquinha da trágica Copa de 1950, no Brasil, composta por Lamartine Babo, o mesmo responsável pelos hinos dos clubes cariocas – reza a lenda que compôs todos em um dia - e por N marchinhas. Prestem atenção, aos 32 segundos deste trecho de documentário. Entoado com a pompa de quem acabava de inaugurar o maior estádio do mundo, retumba nos alto-falantes: “Salve o Estádio, Municipal / No Campeonato Mundial / Salve a nossa bandeira, verde, ouro e anil / Brasil, Brasil, Brasil!”.
5-“Mexicoração”, de ??? (Copa 1986)
Pois então, 1986 foi minha iniciação oficial em Copas, já que quatro anos antes ainda não sabia quem era a bola. Portanto “la mano de Dios” de Maradona, Platini isolando o pênalti, os mullets de Müller e Careca e a bola batendo na trave esquerda de Carlos (Ganso), em suas costas, e entrando, estão mais frescos em meu disco duro do que a partida de ontem contra o Zimbábue. Bem como o gol do Doutor Sócrates contra a Espanha na estréia, motivo da primeira das pouquíssimas interrupções no ato da micção – uma prática nada recomendável, todos sabem – de minha vida. Cada vez que revejo o zagueiro brutamontes Júlio César explodindo a trave de Bats na decisão de pênaltis contra a França, um filme passa em minha cabeça. E a trilha sonora é “Méxicoração”.
Ah, e falando em 1986, não dá para deixar de fora a vinheta do Arakem, o Gol-Man. Eu tinha a camiseta igual a dele. Sensacional também os cigarros Hollywood patrocinando a Copa.
4-“Um a Um”, de Edgar Ferreira (Copa 1954)
Eu não sabia, mas li num texto de 2006 do Correio Brasiliense que este baião popularizado por Jackson de Pandeiro, depois regravado por grupos como Paralamas do Sucesso, tinha sido escrito sob inspiração da Copa da Suíça. É tão bom que transcendeu sua razão inicial. “Esse jogo não pode ser um a um/ Se o meu time perder tem zunzunzum”. Antes tivesse sido 1x1 de fato o embate brasileiro com a Hungria, sensação daquele ano, nas quartas-de-finais. O esquadrão de Puskás e companhia despejou a Canarinha com um sonoro 4x2.
3- “A Taça do Mundo é Nossa” de W. Maugeri, M. Sobrinho, V. Dago e L. Muller (Copa 1958)
Foi feita somente após o triunfo de 1958, às custas de um Pelé ainda pueril. O pessoal devia estar bastante desconfiado após o desastre de 1950 e a surra húngara de 1954.
2-“Povo Feliz”, de Memeco e Nonô (Copa 1982)
Em 2003, Júnior amarelou pesadamente na hora de assumir o cargo de técnico do Corinthians, durando inacreditáveis dez dias no cargo. Mas seu passado é maior do que esta presepada. Jogou muita bola no Flamengo e na Seleção em duas Copas, e atualmente não compromete como comentarista. De quebra, ainda era um razoável intérprete de samba. Composta para o mundial da Espanha, “Povo Feliz”, ou “Voa Canarinho”, embalou a mítica Seleção da qual ele, Zico, Falcão e Sócrates faziam parte. A voz principal é do ex-lateral esquerdo e meio-campista, espécie de precursor do samba nas comemorações de gol ao anotar o terceiro tento contra a Argentina, no jogo que antecedeu a queda ante a Azurra. Estima-se que 800 mil cópias do compacto tenham sido vendidas naquela ano.
1-“Pra Frente Brasil”, de Miguel Gustavo (Copa 1970)
Essa música foi usada como propaganda da ditadura militar no Brasil, o que não é nada legal. Mas até aí a própria Seleção de 1970 foi super explorada com o mesmo fim. Nem sempre as conotações se perpetuam, e para mim, pelo menos, me vem mais à cabeça a Era Dourada ludopédica nacional do que generais torturadores quando escuto o hino. Ficou tão marcado que em 1986, no embalo da volta da Copa ao México – mesmo cenário do show brasileiro de 1970 -, a Globo readaptou o tema. Engraçado que a métrica teve que mudar para que o verso inicial atualizado pudesse ser encaixado: “Cento e Oitenta Milhões em ação” no lugar de “Noventa milhões em ação”.