segunda-feira, 26 de março de 2012

Papo de altas transações



Como só os grandes humoristas sabem ser, Chico Anysio era de uma polivalência assustadora. De ator capaz de dar verossimilhança cômica a 1001 tipos a escritor, não faltavam dotes no currículo do cearense morto na sexta-feira passada aos 80 anos.

Evidentemente, a música era também um dos tópicos desta lista interminável de talentos. Um dois mais importantes, aliás.

E não só por iniciativa do próprio Chico enquanto criador, mas também de gente que lembrou dele em alguma letra, ou até mesmo em aparições sobrenaturais. Para rememorá-las, eis um top 5 com referências musicais a Chico Anysio.

5-Citação em “Da Ponte pra Cá”, música dos Racionais MC’s (2002)
Ice Blue, o Flavor Flav da Zona Sul paulistana, tem a manha de criar alguns dos versos mais grudentos dos Racionais, mesmo quando canta apenas duas estrofes em meio aos sermões quilométricos de Mano Brown. O segredo é acrescentar uma pitada de humor, ainda que esteja falando muito sério. Para desmoralizar aquela figuras assim meio... Nazareno, o “malandrão vândalo” que vive “batendo no peito feio e fazendo escândalo”, Blue manda (no tempo 6’04”): “Palmas para ele/ Digam hey, digam how/ O novo personagem pro Chico Anysio Show”.

4-Mediação para a volta de Caetano Veloso do exílio
Está no documentário Canções do Exílio: a Labareda que Lambeu Tudo, exibido pelo Canal Brasil em 2011, com narração do velho Pereio. Ao chegar em Londres em 1969, para exílio político que duraria dois anos e meio, Caetano Veloso recebeu carta de Chico Anysio, que se ofereceu para intermediar a sua volta ao país. Mais detalhes do episódio a partir do minuto 30 do vídeo.


3-Virundum subliminar no hit “Bette Davis Eyes”, de Kim Carnes (1981)
Especulei sobre isso dois posts atrás. Caso você não ouça “Chico Anysio” no refrão, quando aparentemente Kim Carnes quis cantar “She’ll unease you”, prometo usar na cabeça uma teia como a do Alberto Roberto por uma semana. (Os dominicanos aqui do Poble Sec vão achar normal, mas tudo bem)


2-Prolífico compositor de música “séria”

O bom site Discos do Brasil  cataloga 25 canções de autoria ou coautoria de Chico Anysio, sendo nenhuma delas humorística. Como Bento Carneiro, o Vampiro Brasileiro, o cara parecia viajar no tempo, criando letras para divas de diferentes eras da música brasileira, de Dalva de Oliveira e Dolores Duran a Elis Regina. Entre elas, escreveu com Hianto de Almeida “Qualquer Madrugada”, para a mítica Maysa, que a gravou em 1960.

1-Baiano e os Novos Caetanos
Se tivesse parado no título – o melhor nome-paródia de banda da história - já estava bom. Mas havia ainda a cabeleira de “Baiano”, o músico-hippie criado por Chico (um mix capilar do Caetano fase Londres e Moraes Moreira), e as canções dos dois discos que ele lançou, em 1974 e 1975, com “Paulinho” - alter-ego de Arnaud Rodrigues - e Renato Piau, eram sensacionais.

O clássico definitivo do trio é o samba-rock “Vô Batê Pa Tu”, que abre o primeiro álbum. Pelo título e por versos como “O caso é esse/ Dizem que falam que não sei o que/ Tá pá pintá ou tá pá acontecer/ É papo de altas Transações”, poderia até parecer algo nonsense. Porém, se contextualizado com o que vem depois (“Deduração um cara louco/ Que dançou com tudo/ Entregação com dedo de veludo/ Com quem não tenho grandes ligações”) ficava claro o contexto político da música, escrita em plena ditadura militar. Genialidade ímpar para driblar a censura. 



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sexta-feira, 9 de março de 2012

A adorável e premeditada incapacidade deste cara chamado Morrissey de resumir títulos de canções


Foto: Tom Sheehan

Desafio as pessoas que possuam ingressos para qualquer um dos três shows da turnê brasileira de Morrissey, iniciada na quarta-feira em Belo Horizonte, a roubarem o set list. Deve ser um calhamaço de dez páginas. Afinal, como a inimitável voz, as letras in your face, o topete pós-James Dean, o vegetarianismo militante e o jeito único de cantar, o hábito de batizar composições com frases compridas é mais uma das peculiaridades do ex-vocalista dos Smiths.

Moz não revela o método, mas deve ser assim: escolhe uma estrofe inteira e pronto, está nomeada mais uma canção. Assim, “There is a Light that Never Goes Out” esteve, imagino, a um passo de se chamar “To Die by Your Side is Such a Heavenly Way to Die”.

Em homenagem à nova odisseia tupiniquim do ídolo indie definitivo convertido em hooligan barrigudo, o Mala da Lista preparou um ranking das melhores músicas de nomes intermináveis já escritas por ele. 

Como critério técnico, só puderam ser selecionadas faixas cujos títulos são formados por, no mínimo, sete palavras (o que infelizmente exclui maravilhas do quilate de “Some Girls Are Bigger Than Others” e “Heaven Knows I’m Miserable Now”, por exemplo). Ordenadas por quão boas são, e não pelo tamanho.

10-“A Rush And A Push And The Land Is Ours” (1987 – The Smiths)

9-“Last Night I Dreamt That Somebody Loved Me” (1987 – The Smiths)

8- “How Can Anybody Possibly Know How I Feel?” (2004 – carreira solo)

7-“You Just Haven't Earned It Yet Baby” (1987 – The Smiths)

6-“The More You Ignore Me, the Closer I Get” (1994 – carreira solo)

5-“Please, Please, Please, Let Me Get What I Want (1984 – The Smiths)

4-“Stop Me If You Think You've Heard This One Before” (1987 – The Smiths)

3-“We Hate It When Our Friends Become Successful” (1992 – carreira solo)

2-“There Is A Light That Never Goes Out” (1986 – The Smiths)

1-“The Boy with the Thorn in his Side” (1986 – The Smiths)
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