quinta-feira, 9 de junho de 2011

Dia dos Namorados



Se, por um lado, a música costuma ajudar na formação de grandes casais, alguns casais têm o dom de gerar grandes canções. Ou simplesmente ilustram à perfeição momentos sonoros importantes. É neste domingo o Dia dos Namorados, portanto nada mais listável do que as parejas musicais mais marcantes, cada qual à sua maneira.

Em comum, além do carisma conjunto, as amorosas duplas deste top 10 possuem o fato de terem produzido algo com a participação de ambos os cônjuges. Ou seja, excluem-se pop couples da laia de Syd Vicious e Nancy Spungen (ela não passava de uma piranha, jamais cantou, tocou ou gravou algo). Também não vale o casal aí de cima, genial, mas sobre o qual a gente já não aguenta mais falar.

*Os nomes dos fotógrafos aparecem quando o crédito está disponível na rede.



10- Bob Dylan e Joan Baez (o mais cabeça)

No belo documentário “No Direction Home” (2005), Joan Baez confessa a Martin Scorsese que nunca entendeu qual era, afinal, a de Bob Dylan, seu namorado no começo dos anos 1960. Eu sim, pelo menos no que diz respeito a este relacionamento: Joan podia até ser bonita e uma personalidade precoce do folk, mas levava tudo a sério demais e sua voz aguda beirava o insuportável. Tirado de outro documentário essencial, “Don’t Look Back”, (1967), de D. A. Pennebaker, o trecho a seguir mostra o descaso de Bob pela colega, datilografando enquanto ela canta. Pura neurose intelectual.




9-Baby “Do Brasil” Consuelo e Pepeu Gomes (o mais hiponga)

Morando coletivamente com os Novos Baianos, fabricaram filhos e filhas, todas elas com o bocão e sem o talento da mãe. O casamento durou dezoito anos até que a hoje evangélica Baby, segundo seu próprio site, “foi procurar a espiritualidade, e eles já eram praticamente irmãos”. Conversões religiosas e quedas de libido à parte, o que importa é que a vida antes fora uma grande festa, em clima de churrascão – será que transavam carne? –, como no vídeo abaixo.




8-John e Alice Coltrane (o mais transcendental)

Foto: Chuck Stewart
Quando Trane embarcou no free jazz, Alice pegou o primeiro avião com destino à insanidade do marido, convertendo-se em pianista de seu grupo em alguns dos momentos mais radicais. Provavelmente se cansara do segundo plano na vida do maior saxofonista da história que, naquele período, podia facilmente gastar meia hora em um único solo.




7-Kurt Cobain e Courtney Love (o mais podreira)

Esqueçam as teorias da conspiração (Kurt ghostwriter do Hole, Courtney assassina do marido). Afinal, os grunge sweathearts dividiam não apenas o leito e as seringas, mas também a responsa de encabeçar duas bandas de peso na era da camisa de flanela. Este raro dueto garantiu a vaga no top 10.




6-Ike e Tina Turner (o mais barraqueiro)

Ele batia. Ela consentia. Isso era legal? Não. Mas tal boxe matrimonial integrava uma misteriosa e doentia dinâmica: no palco – e imagino que na cama, na pia, na mesa da cozinha - Ike e Tina eram insuperáveis.




5-Ira Kaplan e Georgia Hubley, do Yo La Tengo (o mais fofo)

No livro “Perfect From Now On” (2007) o indie-maníaco John Sellers relembra quando foi ao cinema com a namorada e viu de perto, na mesma sala, o casal que compõe dois terços do Yo La Tengo. Sellers e sua garota fantasiaram, então, que estavam em um double date com a baterista/cantora Georgia e o guitarrista/cantor Ira. Sellers só não menciona se os pombinhos haviam chegado de bicicleta à sessão.




4- Gillian Gilbert e Stephen Morris, do New Order (o mais discreto)

Se pensarmos bem, em termos de presença de palco o New Order foi o primeiro grupo shoegazer do rock. O menos tímido dos quatro integrantes, o baixista Peter Hook, estava longe de ser a pessoa mais desinibida do mundo, e o vocalista Bernard Sumner não sabia o que fazer com o próprio corpo. Imaginem então a desenvoltura do resto da hoje finada banda de Manchester, leia-se o casal aí da foto. Engraçadinhos, criaram o projeto The Other Two após Hook montar o Revenge e Sumner cantar no Electronic. Há uma década, Gillian se aposentou como tecladista para cuidar de sua filha com Stephen. Neste clássico newordeano, é ela quem pilota compressores sem dar um pio, enquanto o marido, muito na miúda, aperta um ou dois botões de um rudimentar teclado-sampler.




3-Serge Gainsbourg e Jane Birkin (o mais safado)

Reza a lenda que os gemidos de Birkin na eterna “Je T’aime... moi non plus” foram resultado de um orgasmo real. O assunto é bastante debatido, aliás, em outro livro da pesada, a biografia de Serge por Sylvie Simmons, editada no Brasil como “Um Punhado de Gitanes”. Não importa se a musa dos dentes separados gozou ou fingiu. A dupla que deu ao mundo Charlotte Gainsbourg se dispunha a tudo, até mesmo a este ménage à trois musical com a cantora e atriz francesa Sylvie Vartan.




2-Kim Gordon e Thurston Moore, do Sonic Youth (o mais cool)

Papai, Mamãe e Filhinha em "Gilmore Girls"
Coco Hayley Gordon Moore. Um nome de batismo como este já renderia à adolescente que o detém - dezessete anos completos em julho - o status de garota mais invocada da escola. Se o resto da classe souber, ainda, que os pais dela são Kim Gordon e Thurston Moore, choverão convites dos neo-indies de plantão para o prom do ano que vem. “You look fabulous today, Mrs Gordon; nice to talk to you again, Mr. Moore”, balbuciará o escolhido, trêmulo.




1- Mimi Parker e Alan Sparhawk, do Low (o mais...uncool!)

Cool mesmo é ser uncool. Ou o cool é o novo uncool. Prova irrefutável de minhas teorias niilistas é a discrepância entre o estilo de vida e a música que produz este casal. Mimi se veste com o decoro e a falta de sex appeal de uma secretária de repartição pública do centro de São Paulo; Alan tem nos olhos a imprevisibilidade perigosa de um louco de bairro. Durante a semana, revezam-se ao volante de uma van, levando instrumentos, material escolar e dois filhos na bagagem, rumo aos festivais mais badalados dos Estados Unidos, quando não da Europa. De volta à casa em Duluth, Minnesota (terra de Bob Dylan), aos domingos pulam da cama para ir à igreja Mórmon mais próxima. Sim, Mimi e Alan são mormons. Sempre às voltas com os fantasmas que, em 2005, o levaram a uma internação para tratamento psiquiátrico, ele escreve versos cortantes tal qual uma faca. Que ambos interpretam - presenciei mais de uma vez – como se o mundo estivesse mesmo para acabar, ela tocando prato e caixa com inéditos desinteresse e preguiça, ele enchendo o ar com os trêmulos de sua guitarra. Duvidou? Assista à dupla tocando “Dragonfly”, em trecho do imperdível documentário “You May Need a Murderer”, sobre a banda.


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