quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Wet and Wild Parte II: os clipes

Crédito: Anônimo

Como em outros anos, a chuva vem castigando pesadamente a massa veranista brasileira. Ainda bem que faz calor ao mesmo tempo, o que torna a combinação garoa + mergulho no mar plenamente viável.

Nas mais de duas semanas que o Mala da Lista passou no litoral de São Paulo recentemente, livros, luta contra o bolor e a magia do dominó foram realidade, mas também as recordações audiovisuais subaquáticas musicais. Em outras palavras, as enxurradas tropicais obrigaram o blogueiro a preparar o ranking dos dez melhores videoclipes em que os músicos ou atores principais aparecem submersos. Vários deles foram filmados embaixo d’água mesmo.

Reparem que apenas um dos escolhidos não foi produzido nos anos 1990. Ou seja, na golden age do videoclipe todo mundo achava que estava sendo original ao optar por produções “molhadas”.

10-Smoke City – “Underwater Love” (1997)

Batidas mezzo trip-hop, uma voz cantando versos bobos na nossa “exótica” língua e um astral supostamente descolado e misterioso. Vocês farejam picaretagem como eu estou farejando? De todas as formas, em 1997 essa espécie de electrobossa era considerada por muitos o supra-sumo do cool. Nem que para tal fosse necessário enfiar a vocalista Nina Miranda na água.


9-INXS – “Not Enough Time” (1992)

Como sempre acontecia antes de se suicidar, em 1997, o cantor galã Michael Hutchence foi quem ficou com o filé neste vídeo, ao beijar a gata subaquática em roupas íntimas. O resto da banda australiana nem sentiu o cheiro de cloro.


8-Sade – “No Ordinary Love” (1992)

Sempre explorando seu apelo sexy, aqui Sade banca a sereia. Embora dê para perceber que, pelo menos nos momentos em que canta, a sensação de estar submersa é apenas uma ilusão de ótica à base de decoração “marinha” e ventiladores. Nos outros trechos, ela de fato se esfrega num cidadão enquanto soltam bolhas, e num final triunfal ainda sai pelas ruas vestida de noiva.


7-Björk - “Oceania” (2004)

Outra que nem chegou perto de ficar com mãos e pés enrugados foi a mais famosa islandesa. Neste caso, foram precisos uma maquiagem e um figurino radicais, além de muita tecnologia audiovisual, para que o telespectador a imaginasse no fundo do mar junto com as medusas. A canção foi feita para a abertura das Olimpíadas de Atenas.


6-Smashing Pumpkins – “1979” (1995)

O clipe deste clássico indie tem bastante a ver com “Kids”, filme sobre adolescentes americanos sem futuro que causou grande furor na mesma época. No entanto, pega consideravelmente mais leve do que o longa de Larry Clark (o mesmo de outras produções indigestas como “Ken Park”), mostrando os jovens apenas arrepiando na balada e dando uma vandalizada básica numa vendinha. A parte que toca a este post ocorre a partir de 2’06’’, quando a rapaziada invade uma piscina para dar uns amassos e fazer cadeiras voarem, entre outras manobras.


5-R.E.M. – “Nightswimming” (1992)

Também remete à nostalgia da puberdade, especificamente no departamento dos mergulhos noturnos secretos com todo mundo pelado. “The fear of getting caught”, “They cannot see me naked” e geme Michael Stipe na bela balada. Aqui, em sua versão extensa, artística, quase um curta-metragem.


4-Portishead – “Only You” (1997)

O mais bacana e esquisito é que o badalado diretor inglês Chris Cunningham (o mesmo do impressionante “All is Full of Love”, de Björk, e o mesmo que deu o cano como VJ do show do Aphew Twin no Free Jazz 2001) não usou a água para recriar um ambiente natural. É no meio da opressão das decadentes formas urbanas que Beth Gibbons literalmente flutua, balbuciando seu canto sofrido. Até os cadarços de um tênis entram no balé malemolente.


3-PJ Harvey – “Down By the Water” (1995)

A inusitada sensualidade deste vídeo, também referência para a capa do álbum “To Bring You My Love”, começa com o particular ula-ula de Polly Jean, suingando no ritmo das maracas. O vestido e o bocão vermelhos tampouco passam desapercebidos. Aliás, é só falar em água que lá está a Sra. Harvey, como vocês podem relembrar neste ou neste post.


2-Nick Cave & the Bad Seeds and Kylie Minogue – “Where the Wild Roses Grow” (1996)

Muita gente se pergunta o que fez Kylie Minogue entre seus dias de musa teen australiana dos anos 1980 e seu ressurgimento como trintona gostosa no início da década passada. Pois é fácil: ela foi a musa morta de seu compatriota Nick Cave. A baixinha encarnou Elisa Day, ou a “Wild Rose”, na belíssima e trágica balada assassina escrita por Cave, também fazendo o papel no vídeo, no qual boia e canta sem vida na companhia de uma serpente e de um coelhinho. “All beauty must die”, condena o matador de Elisa.


1-Radiohead – “No Surprises” (1997)

Grant Gee, o tímido inglês que vi falar num cinema barcelonês antes de uma sessão de seu ótimo documentário sobre o Joy Divison, fez história na década de 1990. Pelo documentário “Meeting People is Easy”, que fez sobre o Radiohead, tido como um dos mais originais do gênero. E pelo clipe de “No Surprises”, no qual o vocalista da banda, Thom Yorke, aparenta estar submerso sem respirar por aflitivos 58 segundos (confiram: do minuto 2 ao 2’58’’). Claro que a música foi acelerada durante a gravação para que seu calvário não fosse tão longo.

O momento em que a água ultrapassa o nariz de Yorke é memorável, não só pelo efeito incrível da água separando o rosto em dois planos - isso se chama refração, né, senhores físicos? – mas também pela versão underwater da já normalmente incrível expressão do cantor, com suas orelhas de abano, dentes tortos e o olho esquerdo quase fechado por sua paralisia. Um clássico.


Ah, e eu faria uma versão alternativa do vídeo só usando imagens do making off. Uma experiência delirante, com a versão “Bozolina” da canção deixando ainda mais agudos o desespero, a ira e a feiura de Yorke enquanto ele não consegue o take perfeito. Assistam, com direito a comentários maldosos dos apresentadores do programa de TV (“é a canção mais triste que já ouvi”, diz uma presente).


Siga este blog também pelo twitter: @maladalista